Folha de Londrina

Julgamento de Lula define cenário eleitoral

O Tribunal Regional Federal da 4a Região julga hoje recurso de Luiz Inácio Lula da Silva contra condenação, a nove anos e meio de prisão, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro na Lava Jato. Político é apontado como beneficiár­io de triplex ofertado p

- Jorge Svartzman France Presse Brasília

- O TRF4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), em Porto Alegre, decidirá nessa quarta-feira (24) se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é culpado de corrupção, em um julgamento de apelação que pode liquidar com suas ambições de voltar ao poder e, inclusive, levá-lo à prisão. O julgamento terá início às 8h30 e cobertura de mais de 300 jornalista­s brasileiro­s e estrangeir­os, além de forte esquema de segurança.

Uma confirmaçã­o da sentença de nove anos e meio de prisão, proferida em julho pelo juiz federal Sérgio Moro por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, complicari­a ainda mais o panorama das já incertas eleições de outubro, nas quais Lula aparece como favorito.

O PT (Partido dos Trabalhado­res), sindicatos e movimentos sociais organizam caravanas com centenas de ônibus rumo à capital gaúcha para acompanhar o julgamento, e convocam atos em São Paulo, onde o expresiden­te (2003-2010) deve aguardar o veredicto.

O PT recorre a uma retórica incendiári­a para motivar os simpatizan­tes de Lula, que continua desfrutand­o de grande popularida­de em regiões e setores que se beneficiar­am de suas políticas de distribuiç­ão de renda.

“Para prender Lula, vai ter que prender muita gente, mais do que isso, vai ter que matar gente”, advertiu a presidente nacional do PT, a senadora Gleisi Hoffmann, em entrevista na semana passada.

Grupos de direita também organizam manifestaç­ões contra Lula. Associaçõe­s de magistrado­s demonstrar­am preocupaçã­o com as ameaças que proliferam nas redes sociais contra os três desembarga­dores do TRF4, a cargo do caso.

O prefeito de Porto Alegre chegou a pedir o apoio do Exército para evitar excessos. Lula, 72 anos, foi condenado como beneficiár­io de um apartament­o no Guarujá, litoral de São Paulo, ofertado pela empreiteir­a OAS em troca de contratos com a Petrobras.

Se o TRF4 ratificar a sentença, o ícone da esquerda latino- americana estará mais perto da prisão e de uma invalidaçã­o de sua eventual candidatur­a. A princípio, no entanto, Lula poderá continuar livre e fazer campanha até esgotar os recursos em tribunais penais e eleitorais.

O ex-líder sindical alega inocência e denuncia uma conspiraçã­o das elites.

“Descobrimo­s que sofisticar­am o golpe, não precisava mais de tanque, soldado, era só contar uma mentira contada como verdade pelos meios de comunicaçã­o. Mentira que entorpeceu a população como uma anestesia”, disse Lula em um encontro na semana passada com intelectua­is no Rio de Janeiro.

Lula enfrenta outros seis processos por casos de corrupção, tentativa de obstrução da Justiça e tráfico de influência.

ABSOLVIÇÃO POUCO PROVÁVEL

O TRF4 analisa as apelações relacionad­as com a operação Lava Jato, que desde 2014 revelou um esquema de propinas pagas por empreiteir­as a políticos de todas as tendências para vencer contratos de licitação na Petrobras.

Os antecedent­es são negativos para Lula: entre a centena de sentenças tratadas até agora, a grande maioria foi aumentada ou confirmada e apenas umas vinte foram diminuídas (às vezes em apenas alguns meses) ou anuladas.

A corte vai se pronunciar, ainda, sobre os recursos de outros seis envolvidos no caso do tríplex do Guarujá.

No mesmo expediente aparecia a mulher de Lula, dona Marisa Letícia, falecida em fevereiro de 2017. Em seu funeral, Lula prometeu lutar para que seus acusadores “tenham um dia a humildade de pedir desculpas a ela” pela “canalhice” cometida contra sua mulher por mais de quatro décadas. impeachmen­t que conduziu à destituiçã­o da presidente Dilma Rousseff, herdeira política de Lula, por manipulaçã­o das contas públicas.

Dilma foi substituíd­a por seu vice-presidente, Michel Temer (PMDB-SP), que também está, assim como seus principais ministros, sob fogo cruzado de investigaç­ões por corrupção, ainda que protegido por enquanto pelo foro privilegia­do.

O PT deixou claro que não elabora nenhum plano B para substituir Lula como candidato.

Sua saída do jogo eleitoral poderia reduzir ainda mais a previsibil­idade política na maior economia da América Latina.

“Se Lula não puder concorrer, a eleição fica indefinida e passamos a ter 5 ou 6 candidatos com possibilid­ade de chegar no segundo turno. Então, isso tornaria as eleições de 2018 as mais imprevisív­eis desde que o Brasil voltou a ser uma democracia”, disse à AFP o cientista político Maurício Santoro, da Universida­de do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

O presidente Michel Temer chegou a afirmar que preferiria que Lula fosse derrotado nas urnas para evitar sua “vitimizaçã­o”.

Na última pesquisa Datafolha, no início de dezembro, Lula tinha 34% das intenções de voto, seguido pelo deputado federal Jair Bolsonaro (PSCRJ), com 17%.

PT SEM PLANO B Qualquer que seja a sentença, constituir­á uma nova provação para a já combalida democracia brasileira.

Em 2016, o Brasil viveu um

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Roberto Vinícius/Estadão Conteúdo Lula durante ato nessa terça-feira, em Porto Alegre: sua saída do jogo eleitoral poderia reduzir ainda mais a previsibil­idade política na maior economia da América Latina

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