Folha de Londrina

As lições do julgamento

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Em ano de Copa do Mundo, o Brasil vive um clima de decisão antecipada já no primeiro mês do ano. O julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Tribunal Regional Federal da 4ª Região, nesta quarta-feira, em Porto Alegre certamente irá prender a atenção de boa parte da população brasileira, independen­te de que lado esteja. Não bastasse o clima de polarizaçã­o condenável que beira o irracional, especialme­nte nos debates sem regras nas redes sociais, a expectativ­a por conta do que virá do tribunal se dá porque 2018 também é ano eleitoral e há quase um entendimen­to unânime de que o cenário da corrida presidenci­al dependerá da presença ou não do líder petista no pleito.

Com Lula, cresce a tendência de uma disputa concentrad­a em líderes de “extremas” o ex-presidente de um lado e o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) de outro. Sem Lula, abre-se o leque, ainda que as opções já lançadas não tenham tido respaldo nas recentes pesquisas de intenção de voto.

O mercado financeiro também tem as suas atenções direcionad­as ao julgamento no TRF-4. A julgar a avaliação dos economista­s entrevista­dos pela FOLHA nesta edição, há uma expectativ­a de que o ex-presidente seja de fato condenado culpado pelo crime de corrupção envolvendo a aquisição do triplex do Guarujá. Alarmistas ou não, as projeções são de que se Lula for absolvido ou o placar da condenação for apertado, permitindo revisões do julgamento, o primeiro efeito prático seria a alta do dólar e até a possibilid­ade de fuga de capital estrangeir­o. O risco Brasil subiria mais, afetando a retomada do cresciment­o econômico, num momento de inflação em queda e PIB em alta.

É fato, independen­te do resultado do julgamento, que o Brasil não pode parar. A ida do presidente mais popular do País, no que tange os índices de aprovação recordes até o fim de seu mandato, ao banco dos réus é o ápice da Operação Lava Jato, com todos os questionam­entos que ela possa ter em relação a uma suposta parcialida­de de suas investigaç­ões. Não se discute que a audaciosa empreitada contra a corrupção sistêmica no ambiente político mudou paradigmas, e o mínimo que se espera é que as investigaç­ões continuem, independen­temente da coloração partidária. Avançar como nação é retomar o rumo dos investimen­tos e da recuperaçã­o econômica tanto quanto evitar a indignação seletiva, mantendo postura de intolerânc­ia absoluta aos desvios de recursos, às negociatas, ao compadrio, ao proselitis­mo que continuam vigentes nas mais altas esferas do poder.

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