Julgamento de Lula promete dia de oscilações no mercado financeiro
Analistas acreditam em uma condenação, mas estão de olho no placar do resultado
Aquarta-feira (24) promete um dia nervoso no mercado financeiro com o julgamento do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, no TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), em Porto Alegre (RS). Quando a B3 (Bovespa) abrir o pregão, o julgamento já estará em andamento e analistas acreditam que a bolsa e câmbios devem oscilar ao longo do dia. A expectativa do mercado é por uma condenação, o que inviabilizaria a candidatura do ex-presidente ao Planalto, mas eles também se preocupam com os desdobramentos do placar do julgamento.
Se Lula for condenado por 3 x 0 não caberá embargos infringentes, o que praticamente encerra o processo. Caso o placar seja 2 x 1, haverá a possibilidade de recurso, o que pode arrastar o processo talvez até durante as eleições. “Apesar do otimismo em relação à condenação o momento é de cautela em função da dúvida do placar”, diz Daniela Casabona, Assessora de Investimentos da FB Wealth.
“A condenação por 3 a 0 anima o mercado e a percepção de risco cai. Mas o 2 a 1 pode ser indigesto. Pode ter uma correção mais forte do dólar. O mercado já deu sinais que não quer um populista”, disse Pedro Henrique Rabelo, CEO da WM Manhattan.
Segundo o operador Rafael Mendes, da WM Manhattan, se houver um placar apertado ou a absolvição poderá ocorrer uma fuga de capital estrangeiro. O dólar poderá ultrapassar a barreira dos R$ 3,50 e a bolsa poderá cair a casa dos 72 mil pontos e depois estagnar na casa dos 77 mil, 78 mil pontos. Por outro lado, em caso de condenação, especulasse que o dólar possa ficar na casa dos R$ 3.
Na véspera do julgamento, o dólar registrou alta de 0,84% e fechou em R$ 3,238, a maior valorização em um mês. A bolsa registrou queda de 1,22% e encerrou o dia aos 80 678,34 pontos. Para Mendes, o desempenho desta terça não teve relação com o julgamento, mas sim realização de lucro.
O economista Ronaldo Antunes da Silva, presidente do Sindicato dos Economistas de Londrina, acredita que a maior preocupação do mercado é com a “bagunça institucional” que a condenação de Lula possa causar. Segundo ele, Lula sendo candidato não abalará o mercado. “Ele, como presidente, não trouxe problemas ao mercado. Vencendo ou não, o mercado já sabe como lidar com ele. O problema é o clima de instabilidade que tirá-lo da corrida eleitoral pode trazer”, disse o economista.
Em um cenário pessimista, Silva pensa que haverá uma alavancada do dólar e a bolsa cairá. No pior cenário, os créditos públicos ficarão desacreditados e o governo não conseguirá renegociar a dívida com títulos. “A situação econômica ficaria muito comprometida”, analisou.
A curto prazo, o economista comentou que pode ocorrer uma flutuação normal de um dia nervoso. “Alguns apostadores vão trabalhar com boatos e os mais conservadores, que gostam de estabilidade, devem segurar um pouco”, afirmou.
DAVOS
Presidente Michel Temer que está na Suíça para o Fórum Econômico Mundial, em Davos, afirmou que o julgamento de Lula mostra que as instituições brasileiras estão “funcionando com tranquilidade”.
Temer descarta um clima de “mal-estar” durante o Fórum, mesmo com o mundo voltado para Porto Alegre. “Não acredito que isso ocorra. Não vai causar mal-estar nenhum. É natural”, disse, ao entrar em seu hotel em Zurique. O presidente indicou que sua esperança é de que, com sua participação em Davos, “os investidores se interessem cada vez mais pelo Brasil”. Entre os organizadores do Fórum, não se esconde o fato de que tão importante quanto ouvir a mensagem de Temer nesta quarta será saber o que ocorrerá em Porto Alegre.
O presidente do Fórum, Borge Brende, insistiu na semana passada que o empresariado internacional aposta no fato de que 2018 será um ano de recuperação para a economia brasileira. Mas ele também admitiu que o julgamento de Lula é “uma incógnita”. Davos, porém, deixa claro que colocou o palco para que as autoridades brasileiras possam dar suas versões do que ocorre no País. Numa
delas, Temer, empresários e banqueiros falarão sobre a tarefa de “moldar a nova narrativa do Brasil”.
Organizadores do evento admitiam que sabiam da coincidência das datas. Mas, não por acaso, o principal discurso de Temer em Davos ocorre na manhã desta quarta-feira, quando o processo de Lula no Brasil nem mesmo terá sido iniciado.