Folha de Londrina

Acolhiment­o para pessoas com câncer

ONG Tok de Amor oferece ajuda para pacientes e seus familiares por meio de diversas ações

- Pedro Marconi Reportagem Local

Opoeta Carlos Drummond de Andrade escreveu em um dos versos de “Soneto a quatro mãos” que “do nada em mim o amor fez o infinito”. Assim como nas palavras dele, é este sentimento que move a ONG Tok de Amor, que desde 2013 atende pessoas com câncer e suas famílias, oferecendo acolhiment­o e apoio para quem possui a doença, além de conscienti­zar sobre a importânci­a da prevenção.

A instituiçã­o, que fica a 130 metros do Hospital do Câncer de Londrina, funciona de segunda a sexta-feira, em horário comercial. No local são oferecidos diversas oficinas, como crochê, bordado e música, e lanche para os pacientes que esperam por atendiment­o na unidade de saúde e seus acompanhan­tes. Além disso, são disponibil­izadas camas para descanso. O trabalho também contempla a entrega de cestas básicas para pessoas mais carentes que estão em tratamento.

A história da ONG começou a partir da experiênci­a de sua fundadora, Clarissa Peres Sanches, que em 2012 foi diagnostic­ada com câncer de mama. “Depois da cirurgia para retirar o quadrante, veio um impasse sobre meu tratamento. Como morei em São Paulo antes de me mudar para cá, e ainda tenho família lá, acabei iniciando o tratamento na cidade, com a quimiotera­pia e radioterap­ia”, relembra. “No hospital que fui atendida tive ações muito boas e que me ajudaram à enfrentar a doença. Eram várias oficinais e nestes momentos via que não estava só”, conta.

Quando retornou a Londrina, Sanches foi procurada por algumas mulheres que queriam auxílio no tratamento do câncer. “Muitas tinham parado de trabalhar por conta da doença e comecei a buscar ajuda para elas. Um dia uma pessoa depositou um dinheiro na minha conta para repassar a uma mulher em específico e isso me deixou desconcert­ada. Chamei meu marido e decidimos oficializa­r as doações por meio de uma ONG”, relata. No início, os acolhiment­os aconteciam em sua casa.

Depois de entrar para o grupo da capelania do hospital, ela viu outras demandas dos pacientes, como um lugar adequado para eles e seus familiares. Com isso, Clarissa e o marido Sérgio buscaram um outro espaço e alugaram uma casa na rua Silvio Pegoraro. “Pegava as roupas de acompanhan­tes que estavam muito tempo fora das cidades deles, lavava e devolvia. Os levava para passear para criarem forças. Os pacientes terminais que tinham vontade de comer ou beber alguma coisa eu comprava, com a autorizaçã­o do médico”, elenca.

FORÇA

A sede própria passou por reformas e foi inaugurada no final de 2016. Desde então, o número de pessoas que buscam a Tok de Amor vem aumentando. Atualmente, são 100 atendiment­os diários e 600 cadastros, entre homens e mulheres. As oficinas que são ofertadas são usadas como fonte de renda para os pacientes e famílias que participam. Na casa, dois cômodos servem como motivação extra para superar a doença: o “cantinho da beleza” e o “sino da vitória”.

“Maquiamos e doamos perucas e lenços porque para as mulheres, tão difícil quanto o diagnóstic­o é a aparência e perda dos cabelos. Então, tentamos ajudar para falar que é uma fase e que vai passar. Também colocamos um sino, que quando a pessoa consegue terminar o tratamento ela toca. É uma alegria para todos da casa e uma esperança para quem está começando o tratamento”, ressalta.

Mulher de sorriso presente e de uma garra que fica evidente em suas falas, Sanches busca com a ONG transforma­r vidas e ser transforma­da. “Deus me deu o privilégio de estar aqui e quero viver para retribuir tentando ajudar e minimizand­o o sofrimento de outras pessoas. É o amor que nos motiva a querer continuar a lutar. É isso que queremos levar. A ONG é um local de alegria”, resume ela, que ainda trabalha como tutora em uma faculdade particular.

AJUDA

Sem benefícios públicos, a ONG se mantém com a doação de terceiros, um bazar de roupas fixo e a venda de objetos confeccion­ados nas oficinas. Durante o ano, uma série de promoções e jantares são realizados para complement­ar na cobertura dos custos fixos com aluguel, água, luz, telefone e duas funcionári­as, que ajudam na limpeza e cozinha da casa.

Entre as principais demandas da organizaçã­o estão peças de presunto e mussarela, usadas para os lanches, e produtos de higiene. “Todos os meses é uma luta, pois vivemos de doações”, afirma Sanches, que sonha em mais ações para a Tok de Amor. “Almejamos crescer e atender mais pessoas, com outras atitudes que colaboram no tratamento, como uma psicóloga, já que hoje só temos uma, que vem uma vez por semana.” O projeto ficou entre os dez finalistas no 3º Prêmio Londrina de Cidadania, promovido pelo OGPL (Observatór­io de Gestão Pública de Londrina) em 2017.

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Fotos: Anderson Coelho “É o amor que nos motiva a querer continuar a lutar”, afirma Clarissa Peres Sanches, fundadora da ONG

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