A torcida brasileira no caso Lula
O enfoque dado ao julgamento do ex-presidente Lula mostra o quanto ainda estamos distante de uma sociedade capaz de superar o subdesenvolvimento social, político e até jurídico. O tratamento clubístico que tem se dado ao caso, inclusive por grande parte da grande mídia, mostra como ainda somos incapazes reconhecer nas instituições o papel que lhes cabe.
Aqueles que gostam de Lula ou que defendem a sua filosofia política torcem por sua absolvição. Aqueles que não gostam de Lula ou que têm posicionamento político contrário a ele, torcem pela confirmação da decisão de primeiro grau ou por alguma condenação.
Torcer por uma ou outra decisão nesse caso tem um condão negativo, pois a sociedade, independentemente da cor da bandeira política que possua, deveria exigir do Judiciário uma decisão dentro da legalidade, independentemente de quem for o réu, seja eu ou o meu inimigo político, e não que decida de acordo aquilo que me alegra enquanto torcedor. O resultado do julgamento deve ser a consequência daquilo que consta do processo, mesmo que isso não nos agrade individualmente.
Não se pode aceitar que quem gosta de Lula queira a sua absolvição mesmo que haja provas de que ele é culpado, nem que aqueles que não gostam de Lula o queiram preso e sem direito políticos, mesmo que não haja provas de que cometeu crime, porque se esta lógica prosperar, então estamos mesmo na pré-história social. Se tolerarmos tal situação com Lula ou qualquer outra pessoa, não temos como controlar o que pode acontecer para nós mesmos ou para os nossos descendentes no futuro, pois já não importa a verdade dos autos ou aquilo que a lei estabelece, valerá apenas aquilo que nos agrada pessoalmente ou que mais agrada a maioria.
O que se deve esperar do Judiciário é que seja imparcial, que aplique a lei, que respeite a Constituição e que julgue por princípios jurídicos, seja qual for o desfecho, e isso é o que se espera no caso de Lula ou de qualquer outra pessoa. Não se pode admitir que o Judiciário decida por pressão popular ou com base na vontade da maioria da população, estes aspectos devem estar pressentes no Legislativo e no Executivo, que são cargos políticos. Se a decisão não for aquela que tem apoio nos autos do processo, com base nas leis vigentes, leis estas que devem ter sido feitas em respeito à democrática Constituição de 1988, então não haverá ganhadores ou perdedores, independentemente do resultado. Do Judiciário deve-se esperar e exigir que faça justiça.