PRODUÇÃO LEITEIRA -
Clima favorece pastagens, faz crescer produção de leite e derruba preços para menor patamar desde 2010; no Paraná, alívio vem da queda de 9% nos custos de produção
Preço do litro do leite pago no campo caiu 1,74% em janeiro. Nível é o menor desde fevereiro de 2010. Clima chuvoso favoreceu pastagens e proporcionou aumento da produção. A boa notícia é a queda de 9% nos custos, o que gera alívio entre os produtores
Amédia nacional do preço do leite pago ao produtor caiu 1,74% em janeiro, para R$ 0,9832 por litro, o menor nível desde fevereiro de 2010 (R$ 0,9369/l) quando considerados valores deflacionados pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) até dezembro de 2017. Além de ser um período de produção a todo o vapor, o clima chuvoso favoreceu o crescimento da pastagem e, com vacas melhor alimentadas, resultou em oferta maior de leite. Outro ponto é o recuo do consumo causado pela redução do poder aquisitivo do brasileiro nos últimos dois anos, segundo análise do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz).
Mesmo com apertos de margens, a boa notícia para o criador paranaense é que o custo de produção caiu 9% em janeiro ante dezembro, de acordo com o Deral (Departamento de Economia Rural) da Seab (Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento). O motivo é exatamente o menor gasto com alimentação, que representa 40% do total da atividade, e a maior produção, que dilui as despesas da propriedade. “Em outros anos houve seca no verão, mas neste ano, se o excesso de chuvas prejudicou o feijão, foi ótimo para as pastagens”, conta o veterinário e técnico do Deral, Fábio Mezzadri.
Nos números do Cepea, o valor pago ao produtor teve um dos menores recuos, de 1,16% em 30 dias. Ele diz que os pecuaristas têm trabalhado com equilíbrio. “O problema é que o produtor de leite passou por dois anos complicados, com uma das maiores altas de custo em 2016 pela disparada do preço do milho e da soja para ração e a queda no consumo no ano passado”, afirma Mezzadri, ao lembrar que muitos venderam vacas para evitar o prejuízo.
Nacionalmente, porém, a pesquisadora Natália Grigol, do Cepea, enxerga um cenário crítico para a atividade leiteira. “Existe uma volatilidade natural da cotação do leite, mas o descompasso entre oferta e demanda foi muito forte nos últimos dois anos”, diz.
Contudo, segundo Cepea, o aumento na captação em dezembro frente ao mês anterior no Paraná foi de 5,86%, na Bahia, de 1,87%, em Minas Gerais, de 1,39% e, em São Paulo, de 0,51%. Já em Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Goiás, houve recuos de 3,37%, 2,65% e 2,22%, respectivamente, com produtores que deixam a atividade, abatem vacas e investem menos.
Ela sugere que o produtor use o momento para profissionalizar a gestão da propriedade, com foco na margem de lucro e aumento da produtividade. Para tanto, Grigol cita a necessidade de um planejamento de longo prazo para os manejos alimentar, reprodutivo e sanitário. “Na gestão, é preciso olhar não apenas o desembolso para rodar a produção, mas a depreciação. Se fizer isso e conseguir empatar em um momento como esse está até bom, mas, se não paga o custo operacional total, está mais suscetível a risco”, explica. A pesquisadora afirma que até mesmo o pró-labore entra nessa conta e ajuda a evitar o aperto.
PRECAVIDO
Há 50 anos na atividade, o pecuarista Louis Baldraz diz que já está acostumado aos ciclos de alta e de baixa do leite. “Tem de fazer uma reserva no tempo das vacas gordas. Estou empatando um pouco hoje, porque o preço da alimentação baixou, mas sei que a oscilação vai reverter no futuro e diminuo o investimento em infraestrutura por algum tempo”, afirma, ao lembrar que não se pode economizar em renovação de pastagens e sanidade para evitar perdas de produtividade.
Na Fazenda Tapir, em Rolândia, Baldraz tem 270 vacas em lactação e não considera sair do ramo. “Quando o preço estava bom, muita gente entrou e agora vai sair, porque não é eficiente na produção”, diz.
PERSPECTIVA
A volta as aulas será o termômetro sobre a recuperação no consumo de lácteos. A pesquisadora do Cepea considera que a tendência é de recuperação no poder de compra da população, ainda que uma recessão duradoura como a dos últimos anos implique em mudança nos hábitos de compra das famílias. “Mas nossa expectativa é de estabilidade porque está difícil enxergar um cenário de alta no campo e também não dá para esperar por queda, já que o preço está muito baixo”, cita Grigol.