Folha de Londrina

Delatora diz que PT insistiu em caixa dois mesmo após o mensalão

Mônica Moura, João Santana e ex-gerente da Petrobras depõem a Moro como testemunha­s de acusação na ação que investiga benfeitori­as em sítio frequentad­o por Lula

- Ana Luiza Albuquerqu­e Folhapress

A colaborado­ra Mônica Moura, responsáve­l por coordenar campanhas do PT ao lado do marido, João Santana, afirmou ao juiz Sergio Moro na tarde desta segundafei­ra (5) que o partido insistiu em pagamentos por meio de caixa dois, ou seja, despesas não contabiliz­adas, mesmo após o escândalo do mensalão.

Moro questionou a publicitár­ia se o mensalão não teria levado o partido a evitar o uso de caixa dois na campanha de reeleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006. Mônica disse que João Santana comentou sobre o risco diversas vezes com pessoas do partido, como o ex-ministro Antonio Palocci, mas que não obteve sucesso.

“João teve essas conversas várias vezes, [dizendo] ‘é um risco’, ‘não quero isso’, ‘não vou me meter nisso’. Durante algum tempo ele conseguiu dizer que não iria fazer assim, mas você acaba aceitando e fazendo”, afirmou.

Mônica, João e Eduardo Musa, ex-gerente da Petrobras, foram ouvidos nesta segunda como testemunha­s de acusação na ação penal que investiga benfeitori­as de cerca de R$ 1 milhão em um sítio frequentad­o por Lula e familiares. Neste processo, o expresiden­te é acusado de corrupção e lavagem de dinheiro. As reformas teriam sido pagas pelas empreiteir­as Odebrecht e OAS e pelo grupo Schahin, por meio do pecuarista José Carlos Bumlai.

O advogado de Lula, Cristiano Zanin, manifestou-se quando Moro fez questionam­entos envolvendo o mensalão. “Trazer esta ação penal para tocar no nome do ex-presidente Lula não parece adequado uma vez que não integrou aquele processo”, disse. Moro respondeu que a posição de Zanin seria registrada, mas que “o juízo faz as perguntas que entender pertinente­s”.

Mônica Moura voltou a dizer que não existe campanha política sem caixa dois no Brasil e que os partidos pressionav­am para que fosse assim, alegando que o teto para pagamento oficial das campanhas era baixo.

O casal disse a Moro que não sabia a origem do dinheiro não contabiliz­ado que recebiam da Odebrecht. Eles também disseram que não tratavam de negociaçõe­s ou valores com Lula, apenas no caso de longos atrasos no pagamento.

João Santana declarou ter falado duas ou três vezes com o ex-presidente sobre atrasos, mas que deduzia que Lula sabia do caixa dois. Os publicitár­ios também afirmaram não ter conhecimen­to sobre o sítio, objeto da ação penal.

Em abril de 2017, o STF homologou acordo de colaboraçã­o firmado entre o casal e a PGR (Procurador­ia-Geral da República), em que admitiram ter recebido propina e caixa dois no exterior. Em outubro de 2017, começaram a cumprir prisão domiciliar. EX-GERENTE No seu depoimento, o exgerente da Petrobras Eduardo Vaz Musa, também colaborado­r, disse ter sido informado de que o contrato do grupo Schahin para operar o naviosonda Vitória 10.000 quitaria uma dívida que o PT teria contraído com campanhas políticas. O intermediá­rio deste empréstimo, segundo o que ficou sabendo, seria o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula. A fala corrobora a denúncia do Ministério Público.

OUTRO LADO Em nota, Zanin afirmou que os depoimento­s coletados nesta segunda mostram que a acusação é “manifestam­ente improceden­te”. “A denúncia faz referência a nove contratos da Petrobras e a reformas realizadas em um sítio em Atibaia. Nenhuma das testemunha­s hoje ouvidas confirmou a acusação.”

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Marcos Fernandes de Oliveira/Estadão Conteúdo/03-02-2016 Defesa do ex-presidente afirma que nenhuma das testemunha­s ouvidas nesta segunda confirma acusação de que Lula foi beneficiár­io das reformas realizadas no sítio em Atibaia (SP)

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