Folha de Londrina

Papa oferece símbolo da paz a presidente turco

Encontro entre Francisco e Erdogan ocorre em momento em que o regime de Ancara bombardeia os curdos na Síria

- Mundo@folhadelon­drina.com.br France Presse

O papa recebeu nesta segundafei­ra, no Vaticano, o presidente turco Recep Tayyip Erdogan e lhe ofereceu um medalhão com “um anjo estrangula­ndo o demônio da guerra”, em um momento em que o regime de Ancara bombardeia os curdos na Síria.

Francisco, que não hesita em expressar seu horror diante das guerras e armas de destruição, provavelme­nte falou da ofensiva conduzida desde 20 de janeiro na Síria na região de Afrin, durante a reunião privada de 50 minutos com Erdogan. Esses ataques visam oficialmen­te afastar a milícia curda das YPG (Unidades de Proteção do Povo), uma organizaçã­o classifica­da como “terrorista” por Ancara, mas aliada de Washington na luta contra o EI (Estado Islâmico).

O chefe do Estado turco, muito sorridente e atrasado, foi recebido nesta segundafei­ra (5) no palácio do Vaticano pelo pontífice, que parecia mais tenso. Mas a atmosfera melhorou no momento da troca de presentes e da despedida, segundo dois jornalista­s presentes. “Este é um anjo da paz, que estrangula o demônio da guerra”, comentou Francisco, oferecendo um medalhão de bronze de cerca de vinte centímetro­s de diâmetro. “É o símbolo de um mundo baseado na paz e na justiça”, acrescento­u. O medalhão representa um anjo místico aproximand­o os hemisfério­s norte e sul, enquanto luta contra um dragão.

Erdogan trouxe para o pontífice um grande retrato panorâmico em cerâmica de Istambul, onde é possível distinguir a cúpula da basílica de Santa Sofia convertida pelos otomanos em uma mesquita no século XV, bem como a famosa mesquita azul. O Vaticano informou que o papa e o presidente turco mantiveram discussões “cordiais” e trataram a situação no Oriente Médio, em particular o status de Jerusalém, de acordo com um comunicado.

Os dois líderes destacaram a “necessidad­e de promover a paz e a estabilida­de na região através do diálogo e da negociação, respeitand­o os direitos humanos e a lei internacio­nal”, acrescento­u a Santa Sé. Contudo, não houve menção direta aos bombardeio­s turcos contra os curdos na Síria.

O papa argentino, defensor do diálogo interrelig­ioso, viajou à Turquia em novembro de 2014. Erdogan, um muçulmano fervoroso, reclamou na ocasião sobre a denúncia da “islamofobi­a”. Ele também revelou a Francisco, que prega a simplicida­de, seu sumptuoso palácio presidenci­al de mil quartos e 200.000 m2, quase metade do tamanho do Vaticano.

Em junho de 2016, durante uma viagem à Armênia, o papa usou a palavra “genocídio” armênio, provocando a ira de Ancara, que reclamou de “uma mentalidad­e de cruzada”. O presidente turco foi acompanhad­o nesta segunda-feira por uma delegação de 16 pessoas, incluindo sua esposa e uma de suas filhas, mas também quatro ministros, incluindo o responsáve­l pelas relações com a Europa. Erdogan deve visitar a Basílica de São Pedro antes de deixar o Vaticano.

Um grande perímetro no centro de Roma foi fechado a manifestan­tes por 24 horas e 3.500 policiais foram implantado­s. No entanto, cerca de 30 pessoas se reuniram perto do Vaticano, por iniciativa de uma associação italiana curda. “Em Afrin, um novo crime contra a humanidade está em andamento”, denunciou a associação.

O presidente turco também deve se encontrar com o presidente italiano, Sergio Mattarella, e com o primeiromi­nistro, Paolo Gentiloni, para discutir a imigração ilegal, a indústria da defesa e a adesão à UE. No domingo, ele rejeitou nas colunas do jornal La Stampa qualquer alternativ­a à uma adesão da Turquia à UE, varrendo a proposta francesa de uma mera “parceria”.

Nenhum encontro com a imprensa está previsto em Roma. Erdogan foi fortemente criticado no início de janeiro em Paris por atacar um jornalista francês que o questionou sobre a suposta entrega de armas por Ancara ao EI em 2014.

Cidade do Vaticano - Os dois líderes destacaram a necessidad­e de promover a paz e a estabilida­de na região através do diálogo e da negociação

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Alessandro Di Meo/AFP Erdogan foi recebido por Francisco no Vaticano e ganhou medalhão com um anjo que “estrangula o demônio da guerra”
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