‘Tentam pegar carona na missão da igreja’
Sacerdote da Arquidiocese de Londrina há quase 20 anos, pároco da Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora, na região sul da cidade, padre Romão Martins ressalta que a missão da Igreja Católica é fazer com que as pessoas se tornem discípulas de Jesus Cristo. Neste discipulado, ele sustenta que são pregados os valores do evangelho cristão, como a igualdade, promoção da vida, fraternidade, justiça e o favorecimento da prosperidade para todos.
Neste processo, Martins reconhece que partidos políticos e outros movimentos ligados a ideologias tentam abarcar estes lemas e se envolverem com a religião. “Quase todos os partidos defendem a mesma coisa, como o desenvolvimento para o País, uma realidade
com mais empregos. Muitos, com estas bandeiras, tentam pegar “carona” na missão da igreja. É claro que dependendo do seguimento, o partido se sente mais atraído”, indica ele, que em breve irá assumir a paróquia São Vicente de Paulo, também na região sul.
O padre destaca que a igreja tem que exercer papel político, mas não vinculado a denominações ou ideologias. Ele cita como exemplos a atuação da Arquidiocese de Londrina com o movimento “Pés Vermelhos, Mãos Limpas”, que mobilizou os londrinenses contra a corrupção no início do milênio, e a defesa para aprovação da Lei da Ficha Limpa no Congresso Nacional, inclusive na ajuda com a coleta de assinaturas de populares por todo o Brasil.
“Precisamos ter perspicácia para não nos deixarmos instrumentalizar por partidos e ideologias. Nosso papel político é exigir que quem está no poder possa, de fato, promover uma sociedade
justa para todos. Temos que ter uma postura crítica, principalmente para aqueles que prometem e não cumprem. Também diante da corrupção e malandragem. A igreja não pode ficar indiferente aos desmandos da política, não importa se são de partidoA,BouC.”
Com um histórico de diversas missões em lugares precários pelo Brasil, ele garante que a opção da igreja pelos mais pobres não significa que ela está aceitando uma posição política, mas que está seguindo o evangelho, dando atenção para aqueles que mais sofrem. “Todos somos influenciáveis e temos nossas ideologias. Muitas vezes conscientemente, outras inconscientemente, muitas por conhecimento ou por ignorância. O discernimento é saber separar aquilo que é meu daquilo que eu quero para as pessoas”, pontua, assinalando o papel do clero. “O líder religioso precisa aprender a trabalhar a cidadania. A escolha quem faz é a pessoa”, acrescenta.