‘Não existe religião sem política’
Para o professor da UEL (Universidade Estadual de Londrina) e doutor em ciências sociais, Fabio Lanza, não existe neutralidade no campo social, o que abrange a Igreja Católica. A própria ideia de isenção, segundo ele, pode ser ocasionada por pessoas que defendem uma opção, seja a de posicionar-se ou não, sobre determinado assunto. “Não existe religião sem política e, talvez, política sem religião no Brasil.”
Coordenador do Laboratório de Estudos sobre Religiões e Religiosidades da UEL, Lanza aponta que apesar de existir uma única Igreja Católica Apostólica Romana, podem ser encontrados inúmeros grupos e formas de organização dentro deste “manto insti- tucional”. “Quando as pessoas não entendem esta diversidade, não aceitam. Mas, quando dialogam, o reconhecimento é mais tranquilo”, explica.
Ele lembra que os documentos oficiais católicos trazem muito destas diferenças. O especialista cita a postura que vem sendo adotada pelo Papa Francisco, que indica um processo de reconhecimento das diferentes identidades, e ainda o tema da Campanha da Fraternidade de 2018, lançado pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) nesta semana, colocando em pauta o debate sobre a violência no País. “Isto é uma postura política”, defende.
Lanza considera que a relação com o campo político faz parte da própria história da igreja. “O diálogo entre religiões e política na atualidade pode ser salutar. Os que defendem a neutralidade não podem esquecer nosso próprio passado”, frisa. “É benéfica a relação que os militantes das CEBs ou de qualquer outro grupo católico possa estabelecer com práticas políticas, partidárias ou não. Desde que lutem pela democratização, educação e outras políticas públicas de qualidade”, elenca.
“A Igreja Católica não tem manifestação partidária. Não existe nenhum documento que expresse apoio exclusivo a uma legenda. Isso não quer dizer que a política não possa ter apoio ou participação dos mesmos. Esta relação é dos católicos, não da igreja”, salienta.