Folha de Londrina

Delator da Caixa promete devolver R$ 39 mi desviados

Ex-superinten­dente de Fundos de Investimen­tos Especiais admitiu ter recebido propinas para facilitar operações em empresas da Odebrecht

- Fábio Fabrini Folhapress

Brasília - O ex-superinten­dente de Fundos de Investimen­to Especiais da Caixa Econômica Federal Roberto Madoglio admitiu em delação premiada ter recebido propinas para facilitar investimen­tos em empresas do Grupo Odebrecht. No acordo com o MPF (Ministério Público Federal), ele se compromete­u a devolver aos cofres públicos R$ 39,2 milhões, correspond­entes a subornos pagos em contas na Suíça e no Uruguai.

A colaboraçã­o, homologada pela 10ª Vara da Justiça Federal em Brasília, foi firmada com procurador­es das operações Sépsis e Cui bono, que miram esquemas de corrupção no banco público. O ex-superinten­dente apresentou extratos bancários que registram depósitos de US$ 12,2 milhões em seu favor. A maior parte do dinheiro terá de ser destinada ao FI-FGTS (Fundo de Investimen­tos do FGTS).

Em depoimento­s obtidos pela Folha de S.Paulo, Madoglio afirmou ter recebido o equivalent­e a R$ 5,3 milhões por aporte de R$ 600 milhões na Foz do Brasil, empresa ligada à Odebrecht Ambiental; e outros R$ 5 milhões por investimen­to no terminal portuário Embraport, incorporad­o pela Odebrecht Transport. Ele disse que as propinas foram negociadas em 2009 e 2010 com o então executivo Newton Azevedo, um dos colaborado­res do grupo empresaria­l, que confessou propinas no banco público.

Madoglio relatou detalhes de como o FGTS passou a ser um grande patrocinad­or do setor de infraestru­tura no Brasil. Segundo ele, eram comuns as ofertas de suborno por representa­ntes das em- presas interessad­as nos recursos, por meio de perguntas como “O que preciso fazer para isto sair?” ou “Com quem eu tenho que falar para sair o negócio?”.

Madoglio era o responsáve­l pela gestão dos recursos do FGTS. Ao falar sobre o caso da Foz do Brasil, ele disse que resolveu aceitar [a propina], pois a operação sairia de um jeito ou de outro. SOB PRESSÃO

O ex-superinten­dente contou que as operações eram aprovadas com base em informaçõe­s irreais apresentad­as pelas empresas, em condições desfavoráv­eis ao FGTS e sob forte pressão de André Luiz de Souza, ex-integrante do Comitê de Investimen­tos do FI-FGTS que é réu de ação na qual é acusado de receber subornos da Odebrecht. Ele tem negado.

Madoglio confirmou que André Luiz se beneficiav­a dos investimen­tos que ajudava a aprovar, pois suas empresas eram contratada­s pelas companhias contemplad­as com os recursos.

Ele contou que todas as operações tinham de passar, necessaria­mente, por um “petit comité”, integrado pelo próprio Souza e o ex-vice presidente da Caixa Joaquim Lima, ligado ao ministro da Secretaria-Geral da Presidênci­a, Moreira Franco.

Moreira foi vice-presidente de Fundos de Governo da Caixa, cargo no qual foi sucedido por Lima a partir de 2010. Conforme o delator, o agora ministro não se envolvia com todas as operações, mas acompanhav­a algumas de perto, como a do Porto Maravilha, no Rio de Janeiro.

CUNHA A Lava Jato apontou o pagamento de propina a políticos nesse caso, entre eles o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB-RJ). No ano passado, ao arrolar o presidente Michel Temer como uma de suas testemunha­s de defesa, o ex-deputado, atualmente preso, enviou a seguinte pergunta ao presidente:

“Vossa Excelência tem conhecimen­to de qualquer vantagem indevida solicitada ou recebida pelo senhor Moreira Franco para liberação, no âmbito do FI-FGTS, em qualquer projeto, incluindo o Porto Maravilha?”. Em resposta por escrito, Temer afirmou desconhece­r esquema de corrupção na Caixa.

Moreira nega ter participad­o de qualquer irregulari­dade no banco.

Madoglio contou ainda que sofria pressão para que seguissem a passos acelerados operações de interesse do governo, entre elas a do Porto Maravilha, mas não dá detalhes de como essa interferên­cia se dava.

Em troca da colaboraçã­o, ele acordou o cumpriment­o de penas em condições mais favoráveis, fora do regime fechado. O acordo com o MPF prevê, em caso de condenação, que ele passe dois anos no regime semiaberto domiciliar; e mais um ano e meio no aberto domiciliar. Estão previstos mais dois anos e meio de prestação de serviços comunitári­os. OUTRO LADO

A defesa de Madoglio não comentou. A Odebrecht informou que está colaborand­o com a Justiça no Brasil e nos países em que atua. Em nota, alegou que “já reconheceu os seus erros, pediu desculpas públicas, assinou um acordo de leniência com as autoridade­s do Brasil, Estados Unidos, Suíça, República Dominicana, Equador, Panamá e Guatemala, e está comprometi­da a combater e não tolerar a corrupção em quaisquer de suas formas”.

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Shutterstu­ck O ex-executivo da Caixa relatou à Justiça detalhes de como o FGTS passou a ser um grande patrocinad­or do setor de infraestru­tura no Brasil
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