Folha de Londrina

Educação é principal reivindica­ção

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No Eli Vive, no distrito de Lerroville, as escolas foram construída­s pelos próprios assentados. Nos barracões de madeira funcionam a parte administra­tiva, o refeitório, os banheiros e as salas de aula. A partir do ano passado, o município assumiu a administra­ção das duas escolas, no Eli Vive 1 e no Eli Vive 2, e os professore­s agora são da rede municipal de educação. No Eli Vive 1 também há uma escola estadual com turmas do quinto ano ao ensino médio. Mas ainda é pouco, afirmam os moradores do assentamen­to. “Queremos que a prefeitura construa um prédio para as escolas aqui”, pleiteia Sandra Aparecida Costa Ferrer.

Também tem a falta de conservaçã­o das estradas, que prejudica o transporte e, por consequênc­ia, o funcioname­nto das escolas. “Às vezes, quando chove muito, os professore­s não vêm por causa das péssimas condições das estradas. E o transporte para levar as crianças das propriedad­es rurais até as escolas também é falho”, comenta Ferrer.

A produtora rural Fátima Aparecida Neres, que vive em um sítio no patrimônio de Guairacá, também lamenta a falta de oportunida­des na educação para os moradores da zona rural. Ela sempre viveu no campo e, quando criança, só conseguiu estudar até a quarta série do ensino fundamenta­l por falta de escolas próximas. Concluiu os estudos, até o ensino médio, depois dos 40 anos de idade. “Foi difícil, ia a pé até (o distrito de) Paiquerê levando junto minha filha mais nova que estava no primeiro ano do ensino médio. Foi a oportunida­de que tive”, conta.

Para os filhos, Neres se queixa da dificuldad­e de acesso ao ensino superior. “Não melhorou muito. Meus sobrinhos de 18 e 19 anos trabalham na roça, fica muito difícil a oportunida­de de ensino. Dos meus seis filhos, apenas um acabou de receber uma chance de entrar na faculdade. Ele mora em Paiquerê e eu falei para ele agarrar essa chance com fé e não desanimar e nem abandonar porque estudo faz muita falta. A dificuldad­e de transporte é o que mais atrapalha os jovens do campo irem para a faculdade. Se a gente correr atrás, até encontra uma faculdade de graça, mas se for para estudar à noite, vai ter dificuldad­e de chegar à universida­de. E quando chove é mais difícil ainda porque a estrada fica ruim.”

Diwzeffy Aparecido Silvério, 20, terminou o ensino médio na escola rural e não pensa em ir para a faculdade. O mais velho de três irmãos, Silvério trabalha no campo, ajudando a família no plantio e na colheita da produção. “Não temos o suficiente para viver dentro dos lotes. Faltam políticas públicas e a nossa luta é sempre a mesma. Os governante­s prometem, a gente espera e não acontece”, disse o rapaz. “Não é só roupa e calçado. A gente tem que ter uma alimentaçã­o saudável, estrada, escola e lazer, é uma grande dificuldad­e.”

Michele Cristina Dias, 14, faz o nono ano na escola estadual do assentamen­to Eli Vive, mas já tem planos para quando concluir o ensino médio. “Quero fazer faculdade de medicina para poder retornar ao assentamen­to e ajudar a comunidade.” A faculdade tornou-se um sonho possível para os assentados graças ao Pronema (Programa de Educação na Reforma Agrária). Com o programa social, mais de 30 moradores do Eli Vive concluíram o ensino superior na UEL (Universida­de Estadual de Londrina). “Mas ainda há muito o que conquistar”, diz Dias.(S.S.)

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Gina Mardones Moradores do Eli Vive: escassez de políticas públicas incentiva trabalho coletivo

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