Folha de Londrina

Responsabi­lidade não é só do poder público

Para assessor do IICA, setor privado é correspons­ável em dar condições dignas para manter a população no campo

- Simoni Saris Reportagem Local

Oassessor especial da diretoria-geral do IICA(Instituto Interameri­cano de Cooperação para a Agricultur­a), Jorge Werthein, defende que a responsabi­lidade de dar condições dignas e manter a população no campo não é apenas dos setores governamen­tais, mas de toda a sociedade. “O setor privado tem que ser correspons­ável pela formulação e implementa­ção de políticas públicas. Para ter uma ação eficiente, precisamos que o setor privado se associe. Se assim acontecer, vamos ter um impacto maior e toda a região onde essa população está morando vai melhorar e isso significa uma melhoria para o país como um todo”, avalia.

“Os projetos de intervençã­o no campo têm futuro, exigem perseveran­ça de quem está no campo e solidaried­ade de quem está na cidade”, complement­a a professora do Departamen­to de Geociência­s da UEL (Universida­de Estadual de Londrina) e coordenado­ra do projeto Sacolas Camponesas, Eliane Tomiasi Paulino.

As políticas públicas específica­s para a população rural são poucas, concorda Paulino, mas ela chama a atenção para os avanços, como o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) e o Pnae (Programa Nacional de Alimentaçã­o Escolar), que são mecanismos criados para facilitar a entrada da produção dos pequenos agricultor­es no mercado, a preços que sejam compensado­res para quem produz. “Dizer que as políticas públicas não funcionam é o primeiro passo para destruir o que já tem. E essas duas políticas (PAA e Pnae) fortalecer­am o campesinat­o. Políticas públicas nós até temos, mas falta a execução dessas políticas em todos os municípios”, afirmou a professora. “Mas nunca foi prioridade dos governos favorecer uma agricultur­a diversific­ada, como fazem os países desenvolvi­dos. A invisibili­dade dos camponeses é parte de um projeto de um país que não olha para a diversi- dade. Não é um problema só do campo, mas de toda a sociedade.”

A produtora Vera Lúcia Oliveira Santos viveu praticamen­te a vida toda no campo e na sua simplicida­de, lembra o poder público de que o investimen­to na população rural só traz vantagens para os camponeses e para a sociedade como um todo. “Hoje se fala muito em crise, mas aqui no campo a gente sente menos a pancada. Plantamos o nosso alimento, temos água de mina, a conta de luz é rural, então é mais barata, e se o gás está muito caro, fazemos um fogão à lenha. Temos mais segurança nas nossas casas e somos unidos, mantemos os nossos filhos por perto e podemos cuidar para que fiquem longe das drogas. Na cidade tudo é comprado, tudo é caro e ninguém tem sossego porque a violência é muito grande. Já saí do campo e fui para a cidade, mas para lá não volto mais. Aqui é muito melhor”, relata.

“O problema maior dos moradores do campo é que estão longe, não têm acessibili­dade, não têm como pressionar o vereador, bater no gabinete do prefeito. Há um isolamento das decisões políticas muito grande, mas a despeito disso estão encontrand­o seu lugar no mundo”, reflete Paulino.

A invisibili­dade dos camponeses é parte de um projeto de um país que não olha para a diversidad­e”

 ?? Shuttersto­ck ?? Projetos de intervençã­o no campo têm futuro, mas exigem perseveran­ça e solidaried­ade, diz professora da UEL
Shuttersto­ck Projetos de intervençã­o no campo têm futuro, mas exigem perseveran­ça e solidaried­ade, diz professora da UEL

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil