Responsabilidade não é só do poder público
Para assessor do IICA, setor privado é corresponsável em dar condições dignas para manter a população no campo
Oassessor especial da diretoria-geral do IICA(Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura), Jorge Werthein, defende que a responsabilidade de dar condições dignas e manter a população no campo não é apenas dos setores governamentais, mas de toda a sociedade. “O setor privado tem que ser corresponsável pela formulação e implementação de políticas públicas. Para ter uma ação eficiente, precisamos que o setor privado se associe. Se assim acontecer, vamos ter um impacto maior e toda a região onde essa população está morando vai melhorar e isso significa uma melhoria para o país como um todo”, avalia.
“Os projetos de intervenção no campo têm futuro, exigem perseverança de quem está no campo e solidariedade de quem está na cidade”, complementa a professora do Departamento de Geociências da UEL (Universidade Estadual de Londrina) e coordenadora do projeto Sacolas Camponesas, Eliane Tomiasi Paulino.
As políticas públicas específicas para a população rural são poucas, concorda Paulino, mas ela chama a atenção para os avanços, como o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) e o Pnae (Programa Nacional de Alimentação Escolar), que são mecanismos criados para facilitar a entrada da produção dos pequenos agricultores no mercado, a preços que sejam compensadores para quem produz. “Dizer que as políticas públicas não funcionam é o primeiro passo para destruir o que já tem. E essas duas políticas (PAA e Pnae) fortaleceram o campesinato. Políticas públicas nós até temos, mas falta a execução dessas políticas em todos os municípios”, afirmou a professora. “Mas nunca foi prioridade dos governos favorecer uma agricultura diversificada, como fazem os países desenvolvidos. A invisibilidade dos camponeses é parte de um projeto de um país que não olha para a diversi- dade. Não é um problema só do campo, mas de toda a sociedade.”
A produtora Vera Lúcia Oliveira Santos viveu praticamente a vida toda no campo e na sua simplicidade, lembra o poder público de que o investimento na população rural só traz vantagens para os camponeses e para a sociedade como um todo. “Hoje se fala muito em crise, mas aqui no campo a gente sente menos a pancada. Plantamos o nosso alimento, temos água de mina, a conta de luz é rural, então é mais barata, e se o gás está muito caro, fazemos um fogão à lenha. Temos mais segurança nas nossas casas e somos unidos, mantemos os nossos filhos por perto e podemos cuidar para que fiquem longe das drogas. Na cidade tudo é comprado, tudo é caro e ninguém tem sossego porque a violência é muito grande. Já saí do campo e fui para a cidade, mas para lá não volto mais. Aqui é muito melhor”, relata.
“O problema maior dos moradores do campo é que estão longe, não têm acessibilidade, não têm como pressionar o vereador, bater no gabinete do prefeito. Há um isolamento das decisões políticas muito grande, mas a despeito disso estão encontrando seu lugar no mundo”, reflete Paulino.
A invisibilidade dos camponeses é parte de um projeto de um país que não olha para a diversidade”