Iniciada há um mês, Operação ZR3 pode estar longe de chegar ao fim
Investigação que veio à tona há um mês foi possível graças à denúncia feita pelo agricultor Junior Zampar, que tentava mudar zoneamento para vender terreno
Ação comandada pelo Gaeco - que denunciou treze pessoas por envolvimento em uma suposta organização criminosa para aprovação de projetos de lei de mudança de zoneamento em Londrina - deve pedir a quebra do sigilo bancário dos investigados, o que pode levar a uma possível denúncia por lavagem de dinheiro. Em entrevista à FOLHA, o agricultor Junior Zampar, que denunciou o esquema ao Ministério Público, disse que só se arrepende de “não ter feito antes”
Deflagrada há um mês pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) do MP (Ministério Público) do Paraná, a Operação ZR3 pode estar longe de chegar ao fim. Até agora treze pessoas foram denunciadas por suposto envolvimento em uma organização criminosa encrustada na Câmara Municipal de Londrina. Cinco inquéritos estão abertos para apurar outros fatos criminosos, em um desdobramento dos crimes de corrupção que teriam sido cometidos para apresentação de projetos de lei de mudança no zoneamento urbano. O esquema veio à tona por meio do agricultor Junior Zampar que denunciou e colaborou com as investigações ao gravar conversas, registrar encontros dentro e fora do Legislativo com agentes públicos, políticos e interlocutores que se tornaram réus na Justiça.
“Desde o início tínhamos a ideia de que as investigações iriam avançar. Relatamos os 15 primeiros fatos criminosos na denúncia que foi aceita na última semana pela Justiça”, disse o promotor Jorge Barreto, coordenador do Gaeco. Ele adiantou que dos cinco inquéritos, apenas um já estava em curso antes da operação ter sido deflagrada, no dia 24 de janeiro. “É um fato (mudança de zoneamento) de 2011, que ainda não foi formalizado na denúncia para preservação e apuração dos fatos.” A expectativa também é para a quebra do sigilo bancário dos investigados, que pode levar a uma possível denúncia por lavagem de dinheiro.
A princípio, os inquéritos sob investigação envolvem os mesmos acusados, mas o MP não descarta a participação de outros agentes públicos. “É possível que tenham outros envolvidos? Sim, é possível. É justamente por isso que as investigações con-
MP não descarta a participação de outros agentes públicos
tinuam”, explicou Barreto. Segundo ele, a intenção do Gaeco agora é tentar reaver aos cofres do município o dinheiro pago por meio de propina. O montante não foi estimado. “Esse dinheiro que eles ‘lucraram’ de forma ilícita é que queremos ir atrás.”
ESQUEMA Para Barreto, todas as provas, depoimentos colhidos e documentos apreendidos que embasaram a denúncia caracterizam a existência do conluio arquitetado para aprovação de projetos de lei de mudança de zoneamento. Ele aponta como fundamental o papel do denunciante, Junior Zampar, vítima do suposto esquema criminoso. “Ficou claro desde o início que a única forma que ele conseguiria alterar a mudança de zoneamento da propriedade seria sucumbido às propostas oferecidas pela organização criminosa.”
Segundo o promotor, mesmo com casos reincidentes de corrupção em Londrina, as operações poderão ter um caráter educativo. “Esses processos servem para quem se viu vítima de uma agente público saber que essas situações, se comprovadas, não ficarão impunes.”
TRÂMITE Na última segunda-feira (19) o juiz da 2ª Vara Criminal Délcio Miranda da Rocha acolheu a denúncia e treze investigados tornaram-se réus: os vereadores afastados Mario Takahashi (PV ) e Rony Alves (PTB), que seriam líderes da organização criminosa, segundo o MP; os três membros do CMC (Conselho Municipal das Cidades) - Luiz Guilherme Alho, Ignês Dequech (ex-presidente do Ippul) e Cleuber Moraes; o servidor público, Ossamu Kaminagakura (exdiretor de loteamentos da Secretaria de Obras)-; o assessor parlamentar Evandir Aquino; além dos empresários acusados de corrupção ativa Antonio Carlos Dias, Brasil Filho, Homero Wagner Fronja, José de Lima Castro Neto, Julio Cesar Cardoso e Vander Mendes Ferreira.
Sendo confirmado a denúncia, as testemunhas arroladas pela defesa serão ouvidas e depois os réus interrogados e por último a sentença. A princípio até o julgamento os citados aguardam processo em liberdade. “A partir do momento que o MP entender que alguém está atrapalhando o regular andamento da instrução e da busca da verdade irá tomar as medidas cabíveis no âmbito criminal e legal”, frisa Barreto.
Os promotores do Gaeco estão seguros de que todos os fatos narrados na denúncia provam os crimes imputados aos réus. “Temos absoluta certeza de que foi feita uma ação integrada pelos agentes citados destinada a receber valores indevidos para prestação de favores ilícitos”, afirmou o coordenador do Gaeco.