POR UMA VIDA MELHOR -
Com o caos econômico, social e humanitário do país vizinho, é cada vez maior o número de venezuelanos que têm cruzado a fronteira do Brasil, em busca de uma vida melhor
O número de venezuelanos que buscam refúgio no Brasil não para de crescer. A principal porta de entrada é Roraima, mas no Paraná 14 cidades já receberam esses imigrantes. É o caso da venezuelana Laura Camacaro e do colombiano Gustavo Montes, pais de Ashly Sofia, que nasceu no Peru.
Oano de 2018 deverá ser marcado pela chegada de um grande número de venezuelanos ao Paraná. Com a crise econômica e humanitária que o país vizinho enfrenta, é cada vez maior o número de pessoas que têm cruzado a fronteira do Brasil. O principal destino tem sido Boa Vista, a capital de Roraima, situação que levou o governo brasileiro a anunciar, na última quartafeira (21), que dará início a um processo de transferência para outros estados. Os primeiros serão São Paulo e Amazonas. Segundo o governo de Roraima, cerca de 30 mil pessoas chegaram da Venezuela desde 2016.
O Paraná ainda não foi selecionado para receber refugiados, mas os venezuelanos já estão presentes. Eles chegam por conta própria, principalmente por causa das oportunidades de estudo e trabalho. O Ipardes (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social), ligado à Secretaria de Estado do Planejamento e Coordenação Geral do Paraná, tem o registro de 113 pessoas originárias do país vizinho no Paraná, todas com carteira de trabalho assinada - dado que não leva em conta os que atuam na informalidade ou estão desempregados.
A cidade paranaense que mais recebeu venezuelanos até agora, de acordo com dados do Ministério do Trabalho, é Toledo, no Oeste do estado (49). Em seguida aparece Curitiba, com 43. Ao todo, 14 cidades paranaenses já receberam refugiados da Venezuela. Já o Centro de Informação para Migrantes, Refugiados e Apátridas do Paraná, ligado à (Seju) Secretaria de Estado da Justiça, registrou 17 venezuelanos no ano passado em todo o estado - todos, também, com carteira assinada.
Segundo Márcia Ponce, da Cáritas Brasileira, a entidade atendeu 25 venezuelanos no passado somente em Curitiba. “Agora é o momento dos venezuelanos, 2018 vai ser um ano de projetos para promover a interiorização. Eles estão chegando em grande número à fronteira, mas estão vindo para o interior do país. Quem consegue chegar ao Paraná, por exemplo, tem uma situação financeira melhor”, afirma Márcia. “A gente soube por exemplo que há uma proposta para Curitiba receber pelo menos 350 venezuelanos. A migração é muito dinâmica. Há um tempo eram os haitianos, depois foram os sírios.”
INSERÇÃO E PRECONCEITO
A Cáritas, que atua na defesa dos direitos humanos, trabalha para inserir os refugiados no mercado de trabalho, com orientações sobre a obtenção de documentos como o CPF e a carteira de trabalho. De acordo com Márcia Ponce, ainda há preconceito por parte de empregadores. “Tem muita gente que não quer contratar imigrantes. Às vezes exigem documentos que eles nunca vão ter, como carteira de reservista e título de eleitor. Isso para contratar um repositor de mercado”, afirma.
Ela também identifica certa xenofobia, principalmente no ambiente de redes sociais. “Existe, até por causa do momento político que vivemos. Falar em Venezuela gera certa reação por parte da sociedade. Temos visto movimentos reacionários nas redes sociais, que relacionam os venezuelanos ao
Falar em Venezuela gera certa reação por parte da sociedade. Temos visto movimentos reacionários nas redes sociais (...) Eles acabam sofrendo uma certa discriminação por parte de uns, mas têm o apoio por parte de outros
Maduro (Nicolás Maduro, presidente da Venezuela). Eles acabam sofrendo uma certa discriminação por parte de uns, mas têm o apoio por parte de outros.”
Maiara Nakamura, headhunter da empresa Corsh, também trabalha na inserção de venezuelanos no mercado de trabalho brasileiro. Segundo ela, os venezuelanos têm os melhores currículos entre as pessoas de outros países que chegaram recentemente ao Paraná. “É gente qualificada, arquitetos, engenheiros, dentistas, a maioria já com nível
superior”, revela. “Eles estão tendo uma política que facilita a entrada no Chile.”
A maior dificuldade identificada por ela é a obtenção de documentos. “Quando eles vêm para cá, ficam amontoados em uma casa sem condições de fazer um currículo. Quando fazem, não sabem para quem entregar. Muitos não sabem como se portar em uma entrevista”, diz. “As próprias empresas não têm conhecimento suficiente. Eles (os venezuelanos) ficam impressionados porque alguém pediu para passarem no outro
dia para trabalhar, e quando chegavam lá não tinha emprego. É uma coisa de brasileiro mesmo.”
Marcela Milano, da empresa Lynion, outra que trabalha na inserção de imigrantes no mercado, avalia que os venezuelanos têm muito a contribuir em um ambiente de trabalho. “A diversidade cultural é favorável ao mercado, pelas diferentes perspectivas que essas pessoas trazem para as equipes. Às vezes nós temos uma visão bem viciada, eles vêm com outra visão, outra cultura, e podem trazer soluções
diferentes”, comenta. “Há empresas que buscam profissionais fluentes em outros idiomas e têm dificuldades para encontrar no país”.
De acordo com Milano, muitos venezuelanos dominam, além do espanhol, o inglês e o francês. “Noventa por cento dos venezuelanos que a gente atende tem qualificação superior, muitos têm mestrado e doutorado. E, normalmente os que chegam, tinham uma boa condição financeira. É um jogo de ganha-ganha para os dois lados.”
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