Morte é uma tragédia
1. A Ilíada termina com Príamo, rei de Troia, reclamando aos inimigos gregos o cadáver de seu filho Heitor. Os gregos cessam a guerra, por algum tempo, para que os troianos possam chorar o seu morto. Mais uma vez, os clássicos nos ensinam: respeito aos mortos é um pressuposto da vida em civilização. Está na Ilíada, na Odisseia, em Antígona. Comemorar os mortos — quando eles não são os “nossos” mortos — é um passo seguro para o abismo. É preciso ter cuidado com o que nasce em nosso coração. Para isso eu tenho uma regra pessoal: — Nunca me felicitar com a desgraça alheia; nunca me desgraçar com a felicidade alheia. O Brasil tem um assassinato a cada nove minutos. Que Deus não me permita festejar nenhum deles.
2. Foram 61.619 homicídios no Brasil em 2017; 138 PMs mortos no Rio em 2017; 27 PMs mortos no Rio em 2018; uma vereadora morta no Rio em 2018; um motorista morto no Rio em 2018; dezenas de crianças mortas no Rio em 2017 e 2018. O pior é que 92% dos assassinos não são identificados. Todos esses números são inaceitáveis. Não se trata de estatísticas, mas de vidas humanas.
3. Stálin disse certa vez: “A morte de um homem é uma tragédia; a de milhões, uma estatística”. Mas o tirano comunista estava errado. Na certa, queria apenas fazer uma pilhéria com as mais de 20 milhões de vidas que ceifou. Não, camarada Stálin. A morte de um indivíduo é uma tragédia — mas a morte de um povo é uma tragédia muito maior.
4. Em 1997, li o livro “Combate nas Trevas”, do historiador marxista Jacob Gorender. A descrição que o autor faz da morte do tenente Alberto Mendes Júnior no Vale do Ribeira, em 1970, é simplesmente horripilante, como só um grande escritor conseguira fazer. Alberto se entregara como refém, estava desarmado e amarrado. Foi morto a coronhadas por dois companheiros de Lamarca. Tinha 23 anos.
5. “A morte de um homem é uma