PENÚRIA E SUPERAÇÃO
Dificuldades financeiras e de estrutura atrapalham até mesmo competidores brasileiros premiados
Falta de incentivo é um dos principais adversários dos paratletas brasileiros. Considerada a melhor do País, equipe de paracanoagem de Londrina enfrenta dificuldades para viajar para torneios. Parceria visa viabilizar apoio de empresas aos competidores
Os paratletas brasileiros sofrem com a falta de incentivo e estrutura para continuarem se dedicando ao esporte. As bolsasauxílios concedidas por órgãos públicos não chegam a todos os atletas e modalidades, o que gera dificuldades mesmo para competidores premiados e que disputam torneios importantes.
Um exemplo é a equipe de paracanoagem de Londrina. A equipe existe desde 2013 e conta com apoio da FEL (Fundação de Esportes) para realizar seus treinos, viajar para competições e adquirir equipamentos. “Somos a melhor equipe do Brasil”, aponta Anderson Benatti, 31 anos, integrante da equipe. “Mas hoje tenho dificuldade financeira até para vir treinar, o transporte falta, acaba sendo muito necessária uma ajuda. Eu venho de ônibus, de Uber, às vezes de carona. Não moro muito longe, imagine quem mora.”
Em 2017, três dos seis atletas da equipe de Londrina participaram dos Jogos ParaPan-Americanos de Canoagem, que foram disputados em Ibarra, no Equador. Giovane de Paula, 20, e Igor Tofalini, 35, foram campeões em suas categorias. Brenda de Almeida, 20, que treina há pouco mais de um ano, conquistou a medalha de prata. “Fui para o Pan e foi uma experiência incrível. Fui através do resultado no Campeonato Brasileiro e por causa da idade também, então fui convocada pela seleção para representar o Brasil, foi surreal”, conta a atleta, que disputa a categoria KL1, para cadeirantes que têm poucos movimentos no tronco.
Almeida é um exemplo de jovem promessa do esporte brasileiro que não obtém ganhos financeiros com a prática da modalidade. A atleta deve começar a receber o Bolsa Atleta Nacional – que paga R$ 925 de ajuda de custo – nas próximas semanas. “Tenho dificuldade ainda, eu moro na zona norte e venho de ônibus até o treino todos os dias. Além de tudo, não tem infraestrutura. Já caí no ônibus, já peguei ônibus em que o elevador de cadeirante não funcionava, já fui xingada por outros passageiros porque o processo para eu entrar no veículo é demorado”, relata.
Os paratletas no Brasil podem reivindicar o Bolsa Atleta, nos mesmos moldes dos atletas olímpicos, mas devem cumprir vários pré-requisitos, como a participação em diversos campeonatos nacionais ou internacionais, para só assim entrarem no processo seletivo para obter o benefício. O Bolsa Atleta é dividido em cinco categorias, com valores mensais diferentes: Categoria de Base (R$ 370), Atleta Estudantil (R$ 370), Atleta Nacional (R$ 925) – que Brenda de Almeida deve começar a receber –, Atleta Internacional (R$ 1,85 mil) e Atleta Olímpico/Paralímpico (R$ 3,1 mil). Em todas elas, os atletas devem estar vinculados a clubes para serem contemplados, exceto a estudantil.
O CPB (Comitê Paralímpico Brasileiro), entidade máxima da área no Brasil, enviou nota à FOLHA para afirmar que não tem ingerência sobre a carreira dos paratletas fora das seleções. “O papel do Comitê Paralímpico Brasileiro é de organizar a participação do País em competições continentais, mundiais e Jogos Paralímpicos, além de promover o desenvolvimento dos diversos esportes paralímpicos no Brasil, em articulação com as respectivas organizações nacionais”, frisa a entidade. “As bolsas são as mesmas dos atletas olímpicos: Bolsa Atleta do Ministério do Esporte e dos governos estaduais e municipais, sem ligação direta com o Comitê Paralímpico Brasileiro.”
PARALIMPÍADAS
O CPB inaugurou recentemente o Projeto Centro de Referência, um centro de treinamentos paralímpico construído para abrigar seleções brasileiras de várias modalidades em São Paulo. O Brasil já tem tradição em Jogos Paralímpicos de Verão. Na última edição, disputada no Rio de Janeiro em 2016, a delegação brasileira conquistou 72 medalhas no total, sendo 14 ouros, 29 pratas e 29 bronzes, encerrando a participação no oitavo lugar, melhor colocação da história.
Neste final de semana, o Brasil encerra com resultados mais modestos a participação nos Jogos Paralímpicos de Inverno, disputados na Coreia do Sul. Com uma delegação formada por três atletas – é apenas a segunda vez que participa dos Jogos –, teve com Cristian Ribera, sexto lugar na modalidade de 15 km do esqui-cross country, e o snowboarder André Cintra, décimo, os melhores resultados até sexta-feira (16).
Apesar dos entraves, País chegou ao top-10 dos Jogos Paralímpicos