Presidente do Peru renuncia ao cargo
Pressionado por denúncias de corrupção, Pedro Pablo Kuczynski justificou sua saída ao clima de “ingovernabilidade” criado pelos opositores
Lima, Peru - O presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski, 79, renunciou ao cargo nesta quarta-feira (21). Em pronunciamento em vídeo, ele atribuiu a decisão aos “seguidos obstáculos” colocados pela oposição, que criaram “um clima de ingovernabilidade para sua gestão”.
PPK (como é chamado) disse que a segunda moção de vacância, que seria votada nesta quinta-feira (22) pelo Congresso, está baseada nas mesmas “acusações falsas” a que ele já havia respondido e das quais reafirma ser inocente.
“A oposição tentou pintarme como uma pessoa corrupta, o que nunca fui”, afirmou. Ele voltou a refutar as acusações que o vinculam aos pagamentos ilícitos que a empreiteira Odebrecht realizou no país. E acrescentou que “informes defeituosos por parte da oposição estavam envolvendo pessoas que nada tinham a ver com o assunto”.
PPK fez menção aos “kenjivideos” - que circularam na noite de terça-feira (20) e que mostravam o congressista Kenji Fujimori, filho do ex-presidente Alberto Fujimori e seu aliado, supostamente oferecendo cargos e vantagens a parlamentares para que votassem contra o afastamento de PPK do cargo. PPK disse que essas imagens eram “editadas, e que causavam a “falsa im- pressão de que se estava oferecendo favores em troca de benefícios políticos” para o presidente. Por fim, disse que a transição ocorrerá “de modo ordenado” e agradeceu a seus colaboradores mais próximos.
Ainda não está claro se o Legislativo aceitaria a renúncia de Kuczynski ou se manteria a agenda de votação de quinta. O congressista fujimorista Daniel Salaverry disse que “a renúncia não o inocenta, ele não se mostrou arrependido e, por isso, defendemos que a sessão desta quinta ocorra mesmo em sua ausência”.
As gravações estão sendo comparadas aos famosos “vladivideos”, do ex-homem-forte do então presidente Alberto Fujimori (1990-2000), e que mostravam Vladimiro Montesinos exercendo pressão e oferendo subornos. Os “vladivideos” foram o início da crise que acabou com a gestão do autocrata.
Até a divulgação dos “kenjivideos”, como estão sendo chamados os atuais, o placar da votação dava uma vantagem apertada, de apenas dois votos, em favor de que PPK permanecesse no cargo, ainda que com mais de 30 votos em aberto (entre indecisos e abstenções).
As imagens de Kenji negociando dinheiro público em troca de apoio ao mandatário, porém, fizeram com que vários congressistas e líderes políticos mudassem de postura. Pela manhã, já se falava em 100 parlamentares aderindo à moção.
“Ou ele renuncia hoje [nesta quarta-feira], ou votaremos sua vacância amanhã”, disse o ex-presidente Alan García, líder do Apra (Aliança Popular Revolucionária Americana).
Três dos 18 parlamentares do partido de PPK (Peruanos por el Kambio) também defenderam a renúncia, por meio de um comunicado. “Diante dos graves fatos recém-conhecidos [a divulgação dos vídeos], nos vemos na obrigação de mudar nossa posição institucionalista. O presidente deve renunciar e dar espaço para a sucessão constitucional”, diz o texto. O primeiro na linha de sucessão é o vice-presidente Martín Vizcarra.