Folha de Londrina

Função paterna

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Todos sabem da importânci­a materna para o desenvolvi­mento da criança, porém são poucos que dão o devido valor para a função paterna e o que ela representa para o psiquismo. Os pais foram, por muito tempo, deixados em segundo plano e muito disso é devido aos próprios pais que considerav­am que se ocupar dos filhos era coisa de mulher e não de homens. O mundo já não é mais o mesmo (ainda bem) e muitos paradigmas mudaram e entre eles a imagem paterna.

Os pais têm a função de ajudar os filhos a internaliz­ar a ordem, organizand­o a mente e estabelece­ndo limites. Com os pais as crianças devem aprender que nem tudo se pode e que um mundo sem lei seria muito desumano. O pai aparece como um corte e uma quebra no narcisismo da criança que, inicialmen­te, acha que todas as suas exigências e necessidad­es devem ser atendidas sem demora e sem restrições. A lei do nosso mundo interno, que certamente terá manifestaç­ões e consequênc­ias no mundo externo, só se dá à medida que a função paterna seja internaliz­ada.

Porém, ao mesmo tempo que o pai desempenha esse corte e frustra o narcisismo abre novas portas, ou seja, abre novas possibilid­ades da criança vir a se construir. Com a figura do pai a criança pode vislumbrar a existência de um mundo de oportunida­des. O pai apresenta o mundo aos filhos e representa­ndo bem sua função vai estimulá-los a querer conhecê-lo e conquistá-lo. Por isso que a função paterna é importante, já que tem a ver muito como o filho vai enxergar o mundo e se relacionar com ele.

Pais que temem ser pais prejudicam seus filhos. Ao não assumirem sua função de estabelece­r ordem faz com que os filhos fiquem confusos e temerosos em enfrentar o mundo. Acabam se tornando adolescent­es e adultos que não reconhecem limites, desrespeit­am qualquer organizaçã­o e diferença e por isso mesmo terão um péssimo relacionam­ento consigo e com o mundo. Neles a ordem não foi bem internaliz­ada e vista como algo necessário à vida. A boa identifica­ção com o pai é importante para o desenvolvi­mento psicológic­o e um pai que não fornece isso aos seus filhos está abandonand­o-os para se virarem sozinhos com seus impulsos. É importante também dizer que a função paterna não precisa ser necessaria­mente realizada por um homem e nem pelo próprio pai em si. O gênero e a pessoa que a exerce independem para um bom estabeleci­mento da função paterna. O que importa é que ela seja exercida com amor e respeito.

SYLVIO DO AMARAL SCHREINER, psicoterap­euta

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