Folha de Londrina

Fatura do cartão de crédito consome um terço do orçamento

Número está bem acima do recomendad­o por especialis­tas; entre os principais gastos estão compras e transporte

- Jéssica Alves Agência Estado São Paulo economia@folhadelon­drina.com.br

- Nos últimos tempos, os gastos excessivos com o cartão de crédito entraram no foco do Banco Central e de entidades de defesa do consumidor. Em 2017 chegou-se a lançar uma campanha pelo “uso consciente” do cartão, e houve mudança nas regras do pagamento do crédito rotativo, uma forma de diminuir os juros pagos pelo consumidor. Mesmo assim, o pagamento da fatura do cartão ainda consome cerca de um terço do orçamento de quem usa o “dinheiro de plástico”.

Segundo dados da plataforma de finanças pessoais Guia Bolso, em média, 33,22% dos ganhos foram usados para quitar a conta do cartão em janeiro - número até um pouco maior que o observado seis meses antes (32,81%). O número está bem acima do recomendad­o por especialis­tas - para Bruno Poljokan, diretor da fintech de crédito Just, o ideal seria algo em torno de 10%. Entre os principais gastos dentro da fatura do cartão estão as compras, que vão desde roupas e utensílios a jogos online, (26,93%); mercado (12,86%) e transporte (12,05%).

Gastos com serviços e mercado - além das famosas “parcelinha­s” - são as principais contas da fatura do editor de vídeo João Vitor Albuquerqu­e. O saldo final das contas corrói 60% do orçamento todo mês. O número é alto porque é no cartão que ele concentra todos os gastos - até a recarga do bilhete único. Ele justifica que adota essa estratégia para obter vantagens oferecidas pelas instituiçõ­es financeira­s como a conversão em milhas aéreas. A peleja de todo mês é organizar as parcelas para não compromete­r ainda mais o fluxo de caixa e acabar caindo na ciranda de juros da dívida mais cara do mercado: o rotativo.

Para Nicola Tingas, economista da Acrefi (Associação Nacional das Instituiçõ­es de Crédito, Financiame­nto e Investimen­to), as pessoas abusam do cartão de crédito pela falta de informação e pela necessidad­e de complement­ar a renda. “Muita gente não tem noção de que está com um produto tão caro e, quando vê, já está afundada em dívidas”, observa. Além disso, lembra, em fase de recuperaçã­o da economia, as pessoas começam a voltar a cometer pequenas “extravagân­cias”. caixa e vai compromete­ndo a conta até chegar ao limite e não conseguir pagar, acabando no rotativo”, explica.

Uma regra geral de finanças que ele recomenda é a 50-15-35, em que 50% do orçamento são destinados a gastos essenciais, como aluguel e contas da casa; 15% para juros de financiame­ntos, como carros, apartament­o ou empréstimo pessoal; e 35% para gastos com estilo de vida. O primeiro passo para se organizar, segundo Poljokan, é evitar parcelar compras atreladas ao estilo de vida - como salão de beleza e viagens -, deixando essa facilidade para gastos maiores.

Além da comodidade de contrataçã­o e da populariza­ção do cartão de crédito, Marianne Hanson, economista da CNC (Confederaç­ão Nacional do Comércio), explica que o cartão toma tanto espaço no orçamento porque vem substituin­do outras modalidade­s de dívida mais utilizadas no passado, como o cheque pré-datado e o carnê de loja.

No início de 2010, quando teve início a Peic (Pesquisa de Endividame­nto e Inadimplên­cia do Consumidor), medida pela CNC, o cheque prédatado era apontado como a principal dívida por 4% dos entrevista­dos. Já em março de 2018, essa modalidade foi apontada como a maior por apenas 1,2%. No caso do carnê de loja, era o principal responsáve­l pelas dívidas para 30% dos entrevista­dos em 2010, tendo caído para 16% em março. Já a dívida do cartão de crédito hoje é apontada como a principal por 76,4% das famílias endividada­s, de acordo com a CNC.

REGRAS

Há um ano o governo mudou as regras do rotativo. Agora, os bancos são obrigados a transferir, após um mês, a dívida do rotativo do cartão para a modalidade parcelada, a juros mais baixos. A intenção era permitir que a taxa de juros para o rotativo recue, já que o risco de inadimplên­cia, em tese, cai com a migração para o parcelado. O juro médio total cobrado no rotativo, entretanto, subiu 5,9 pontos porcentuai­s de janeiro para fevereiro, segundo o Banco Central. Com isso, a taxa passou de 328% em janeiro para 333,9% ao ano em fevereiro.

DÍVIDAS Para Poljokan, o grande vilão do cartão são as compras parceladas. “Quando parcela o valor da compra, a pessoa perde a noção de fluxo de “Muita gente não tem noção de que está com um produto tão caro”

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