Os problemas de uma democracia jovem
Ademocracia brasileira é muito jovem e a sua imaturidade ficou bastante evidente em episódios desencadeados a partir do tema da prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no sábado (8). Uma sucessão de acontecimentos desde que o STF (Supremo Tribunal Federal) começou a votar o habeas corpus preventivo de Lula dá sinal do estado da nossa democracia, que tem muito para amadurecer. Para citar alguns episódios: ameças à família do ministro do Supremo Luiz Edson Fachin, relator da Lava Jato; tiros contra a caravana do PT no interior do Paraná; fachada do prédio da presidente do STF, Cármen Lúcia, manchada de vermelho por manifestantes pró-Lula; confusão na chegada do petista à sede da Polícia Federal em Curitiba.
A consolidação da democracia requer antes de tudo respeito às diferenças de opiniões, à Constituição e às instituições. Assim como foi ofensivo o discurso de Lula, no sábado, quando chamou de mentirosos os membros do Ministério Público e do Judiciário, também foi ofensiva a reação de opositores dele que criticavam os militantes acampados nas proximidades da PF em Curitiba. O direito de protestar pacificamente faz parte da democracia, mas no Brasil são comuns provocações e agressões quando os ânimos esquentam. Preconceito não combina com um sistema político em que o povo exerce a soberania. Democracia não combina com perfis falsos nas redes sociais que usam um nome inexistente para espalhar ofensas.
A crise política iniciada em 2014 e agravada com a recessão econômica e os escândalos de corrupção deflagrou uma onda de polarização e radicalização de todos os lados que persiste até hoje e vai influenciar na disputa política que está por vir. Em visita ao Brasil no final de 2017, o historiador escocês Niall Ferguson fez uma dura crítica às redes sociais, dizendo que ao promover a polarização e visões extremistas, elas estão levando a sociedade a um estado de “incivilidade” (ou falta de civilidade). Leva tempo, mas não há outro remédio: é preciso elevar a educação e a cidadania em uma sociedade real, que vá muito mais além do que uma timeline.
A consolidação da democracia requer antes de tudo respeito às diferenças de opiniões, à Constituição e às instituições”