‘Tem muitas opções, mas falta melhorar a conservação’
Um sábado ensolarado de sol não foi suficiente para atrair londrinenses aos parques da região Norte de Londrina. A reportagem permaneceu no Lago Norte e também no Cabrinha e não encontrou pessoas usando as estruturas de lazer. Bancos quebrados, parquinhos deteriorados e falta de árvores em alguns pontos foram apontados por vizinhos como um possível motivo da pouca frequência. “O problema maior é que o lago era lindo e está acabando”, afirmou o motorista Francisco da Luz, que mora às margens do Cabrinha e teme que a área seja eliminada pelo assoreamento. A Sema informou que não há projeto de desassoreamento dos lagos da região.
Apesar da preocupação com a área de lazer, Luz garante que morar vizinho ao parque é um privilégio. “As árvores fazem uma sombra muito boa e a gente costuma se reunir embaixo delas para fugir do calor, mas não é todo mundo que frequenta. Seria melhor se tivesse mais bancos e árvores em todo o parque”, opina.
Por achar que falta sombra nos parques da zona norte, a sacoleira Terezinha Fernandes Camargo atravessa a cidade para levar a neta ao Arthur Thomas. “Gosto muito de vir aqui, só me canso na subida para sair”, brinca ela, que apesar de gostar do parque não costuma ficar por muito tempo. “A sombra é boa, mas falta um parquinho infantil e um lugar que a gente possa ficar”, diz a avó, que gosta de estar em contato com a natureza e acredita que a falta de tempo também afasta as pessoas das áreas verdes.
O enfermeiro Marcos An- tônio da Silva também gosta de levar a filha ao Arthur Thomas, mas reclama da necessidade de poda da grama e da falta de educação das pessoas que largam lixo pela estrutura do local. “Outro problema é a falta de acessibilidade. Londrina tem muitas opções de áreas verdes, mas falta melhorar a conservação”, afirma Silva, que aponta a “preguiça” como outra causa para a baixa frequência. “Quem gosta da natureza sempre vem. As pessoas precisam valorizar mais os nossos espaços”, afirma.
No Zerão, a pista de caminhada é bem frequentada pela população do Centro, mas a falta de manutenção é visível na academia com equipamentos quebrados, no parque infantil destruído e pichações por toda a área. O banheiro, conforme informações da Sema, foi fechado a pedido dos próprios frequentadores por causa de vândalos que sujavam o local. O parque totalmente arborizado, com muito espaço para brincar, fazer piqueniques ou apenas descansar, acaba atraindo visitantes apressados que fazem exercícios e depois vão embora.
A dona de casa Marilza Silva faz caminhadas no Zerão e logo vai embora porque tem medo de assaltos. “O parque precisa de mais segurança. Canso de ver vidros de carros estourados por ladrões que levam bolsas de quem vem caminhar”, exemplifica.
Ela acha que o local poderia ser mais frequentado e atribui ao vandalismo e à falta de manutenção a falta de interesse das pessoas. “Há alguns anos vinha uma professora de educação física da prefeitura dar aulas e muita gente frequentava. Faltam mais ações como essa”, sugere.
(C.A.)
Na pesquisa para o mestrado em arquitetura e urbanismo na área de morfologia urbana pela UEL, a arquiteta Simone de Oliveira Fernandes Vecchiatti, gerente de Áreas Verdes da Sema ( Secretaria Municipal do Ambiente), investigou espaços que, pela lei, deveriam ser destinados a áreas públicas de lazer mas acabaram assumindo outras finalidades, como a ocupação por escolas e postos de saúde. A conclusão é que pelo menos 723,2 milhões de m² que deveriam ser usados para espaços de lazer e convivência assumiram outras funções.
De acordo com a lei, quando um loteamento é aprovado, 35% da área devem ser doadas ao município e, deste total, 7% são exclusivos para áreas de convivência e lazer – como as praças. Outros 3% são destinados a equipamentos públicos comunitários, como é o caso de postos de saúde e escolas. O restante é ocupado pelo sistema viário.
Quando as áreas livres de uso público são ocupadas por outra finalidade, o nome dado ao processo é desafetação. Vecchiatti fez um levantamento na cidade toda e focou o estudo nas áreas livres de alguns bairros da zona norte. “São bairros com boa parte dos conjuntos habitacionais de Londrina e que, pela estrutura reduzida dos terrenos, teriam grande necessidade de praças. Nos bairros com essas características, as praças aca- bam funcionando como um ‘quintal’”, opina.
Ela descobriu que muitas praças deixaram de ser praças porque, na época do repasse, não houve doação de terrenos para áreas livres e equipamentos comunitários de forma igualitária. “Sem espaço para fazer escolas ou postos de saúde, as áreas livres acabaram sendo usadas para esta finalidade”, disse.
A primeira lei municipal que tornou obrigatória a doação de áreas livres data de 1951 e foi proposta por Prestes Maia, que foi prefeito de São Paulo e trouxe a experiência da metrópole para Londrina. “Foi ele quem previu a necessidade de manter os fundos de vale preservados”, relata.
A lei atual, que reserva 3% das áreas para equipamentos comunitários e 7% para parques e praças, data de 1979, quando foi promulgada uma lei federal sobre o assunto. “Com a Constituição de 1988, surgiu a necessidade de outros equipamentos comunitários, como centro de atendimento à mulher, Cras e outros que somam 24 estruturas. Com isso, 3% da área passou a ser pouco”, avalia.
Ela lembra que a Constituição também garante o direito a lazer, educação e saúde e que um direito não pode se sobrepor aos outros. “Onde tem uma situação consolidada de desafetação de áreas de lazer, não há muito o que fazer”, lamenta.
“Sem espaço para fazer escolas, as áreas livres acabaram sendo usadas para esta finalidade”
(C.A.)
Só existe uma pessoa com quem devo ser absolutamente intolerante, em todas as circunstâncias: eu mesmo