Reflexões sobre a tolerância
Compartilho com vocês, meus sete leitores, alguns trechos da palestra que proferi na última quarta-feira, durante a mesa redonda do projeto “UEL – A Casa da Tolerância”:
A tolerância vem a ser uma daquelas virtudes que não devemos declarar. Exatamente como se dá com a bondade, a honestidade e a caridade. O sujeito que se declara bom já está indo mal; o sujeito que se declara honesto nos faz ter mais cuidados com a carteira; e a melhor caridade é aquela que não possui testemunhas, a não ser Deus.
Se você é tolerante, parabéns, mas não está fazendo mais do que a sua obrigação. Por isso eu desconfio daqueles que apontam a intolerância como principal defeito de seus adversários. Na minha experiência, tenho visto que muitas vezes a acusação de intolerância — assim como a acusação de “discurso de ódio” — é usada apenas para negar ao adversário o direito de expressão. George Orwell dizia: “Jornalismo é tudo aquilo que alguém que não quer ver publicado. O resto é publicidade”. Uma crônica de jornal contrária à ideologia de alguém pode assim ser considerada “discurso de ódio”. Garanto a vocês que já aconteceu.
Qual é, no entanto, o limite da tolerância? Deixo a resposta para o filósofo romeno Andrei Pleshu. Ele ensina que ser intolerante com o tolerável é algo tão grave quando ser tolerante com o intolerável. Disse Pleshu numa palestra em 2003: “Quero apenas chamar a atenção para a necessidade imperativa de acrescentar à tolerância o discernimento, de não confundir o respeito à diferença com a ética dissolvente do vale-tudo”. O intelectual romeno sentiu na pele o comunismo de Nicolai Ceausescu; certamente ele tem uma perfeita noção do que seja intolerável.
Da minha parte, só existe uma pessoa com quem eu devo ser
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