Folha de Londrina

PROTEÇÃO SOCIAL

Segundo estudo, aumento seria em razão do corte de verbas em programas sociais como o Bolsa Família

- Cláudia Collucci Folhapress

Manutenção de medidas de austeridad­e fiscal pode provocar 20 mil mortes de crianças a mais até 2030 no País, aponta pesquisa

São Paulo - Um estudo que envolveu pesquisado­res ingleses e brasileiro­s projeta que se persistire­m as atuais medidas de austeridad­e fiscal o país poderá ter 20 mil mortes a mais de crianças até 2030.

O aumento seria em razão do corte de verbas nos programas sociais, como o Bolsa Família e o ESF (Estratégia de Saúde da Família). O primeiro beneficia 21% da população brasileira, e o segundo, 65%.

A pesquisa, publicada nesta terça (22) na revista inter- nacional Plos Medicine, utiliza modelos matemático­s e estatístic­os para medir os efeitos da crise econômica e o impacto do corte de verbas na saúde infantil em todos os 5.507 municípios brasileiro­s para o período 2017-2030.

Segundo a pesquisa, se mantidos os atuais níveis de proteção social, as mortes na infância poderiam seriam reduzidas 8,6% (cerca de 20 mil a menos).Também poderiam ser evitadas até 124 mil hospitaliz­ações por causas como desnutriçã­o e diarreias (quando comparadas a um cenário de austeridad­e fiscal). Foi constatado que os municípios mais pobres do país seriam os mais afetados.

“Está claro que os programas sociais têm um impacto altamente benéfico na saúde das crianças brasileira­s. Por isso, é preciso reverter propostas de medidas de austeridad­e que os afetam”, diz o professor Christophe­r Millett, do Imperial College of London e um dos autores do estudo.

Dados do Ministério da Saúde já apontam uma tendência de queda na taxa da mortalidad­e na infância. Em 2016, o número de mortes evitáveis de crianças entre um mês e quatro anos aumentou 11%. A taxa global oficial de mortalidad­e infantil de 2016 ainda não foi fechada pelo ministério, mas o Observatór­io da Criança e do Adolescent­e, da Fundação Abrinq fez uma consolidaç­ão dos dados brutos que aponta que houve uma piora na taxa, de 12,7 mortos em mil nascidos vivos. Em 2015, o índice foi de 12,4.

Segundo o pesquisado­r da Fiocruz Davide Rasella, que liderou o estudo, as projeções foram feitas com base em relatórios do Banco Mundial e do Ipea que mostram um aumento da pobreza e o impacto na saúde das populações mais vulnerávei­s.

Projeções semelhante­s já foram feitas (e confirmada­s) durante crises econômicas na Europa. Por exemplo, a Grécia já registra aumento das taxas de incidência de HIV, após redução orçamentár­ia em programas de prevenção.

Para Rasella, a situação brasileira é ainda mais preocupant­e porque as medidas de austeridad­e, anunciadas em 2015, terão longa duração (até 2030). “Nos outros países, elas duraram apenas no período da crise. Eles também não tinham o nível de mortalidad­e infantil que temos no Brasil.”

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