Paulo VI e Dom Romero: o que significa ser canonizado?
Faz poucos dias que o papa Francisco anunciou que irá canonizar o papa Paulo VI (1897-1978) e o arcebispo de San Salvador (capital de El Salvador), Óscar Arnulfo Romero (1917-1980), morto em 1980 enquanto celebrava uma missa. Assim como eles, muitos outros já foram considerados santos durante o pontificado de Francisco. Entre eles, os papas João Paulo II (1920-2005) e João XXIII (1881-1963), ambos declarados santos em 27 de outubro de 2014. Mas, o que significa ser santo na Igreja Católica?
A canonização é um processo católico através do qual a pessoa é considerada santa a partir de algumas características ou porque demonstraram uma vida de virtudes e qualidades. Dessa forma, depois de muita análise e estudos, a pessoa é declarada santa. Neste caso, a pessoa passa a ser venerada, também porque se acredita que ela tenha capacidade de interceder a Jesus por algumas questões específicas. É o que se chama de padroeiro, como se fossem guardiões ou protetores especiais de determinadas causas como doenças, países, igrejas e ocupações trabalhistas.
Mas veja: é uma veneração, não adoração. Pois a adoração é reservada somente a Deus, da mesma maneira que a intercessão a Deus é uma atribuição única e exclusivamente de Cristo. Afinal, é como diz a Palavra de Deus: “Porque há um só Deus, e um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem” (1 Timóteo 2, 5).
E, para que uma pessoa chegue a ser declarada santa, é preciso que, após a sua morte, um processo dentro da Igreja seja aberto. O que só acontece cinco anos depois que a pessoa morreu. Na primeira etapa, o bispo local é o responsável por conduzir o levantamento de informações da vida da pessoa, dos seus escritos, das suas virtudes. Um tribunal pode ouvir testemunhas e relatos, que serão todos juntados e enviados ao Vaticano. Até aqui a pessoa é chamada de Servo de Deus. É a fase em que se encontra o processo de Madre Leônia Milito, considerada Serva de Deus e padroeira da vida no trânsito.
A partir daí quem se encarrega do processo é a Congregação para a Causa dos Santos, avaliando documentos e o processo todo. Caso haja um parecer favorável e existam as chamadas virtudes heroicas, então o papa concede o título de venerável. Aí estamos a um passo da canonização. Será necessário comprovar um milagre realizado depois da morte, cuja autoria é atribuída ao Servo de Deus. Obviamente o milagre será investigado e analisado. Se confirmado, a pessoa recebe o título de beata. E, por fim, um segundo milagre precisa ser comprovado para que, enfim, a pessoa seja santificada.
No caso de Paulo VI, o milagre teria acontecido em 2014, quando uma mãe rezou ao finado papa pelo nascimento de Amanda, uma menina que chegou ao mundo depois de seis meses e meio de gravidez. Médicos teriam aconselhado a mãe a abortar, depois que a placenta se rompera, com 13 semanas de gestação. Mas, a mulher rezou no Santuário das Graças de Brescia, lugar de devoção a Giovanni Battista Montini, que mais tarde viria a ser Paulo VI (papa entre 1963 e 1978). A menina nasceu completamente saudável.
O papa Paulo VI é reconhecido por reabrir e defender o Concílio Vaticano II, que o antecessor, o também santo João XXIII, abrira anos antes. O cardeal Montini foi o primeiro papa a visitar a Terra Santa. As viagens são características dele, chamado também de peregrino.
Já Dom Romero é considerado um mártir, ou seja, uma pessoa que morreu por causa de sua fé. Em El Salvador, o arcebispo denunciou as injustiças, defendeu os pobres e vulneráveis e, talvez por isso, tenha sido morto por um esquadrão da morte. Na ocasião também serão canonizados os sacerdotes italianos Francesco Spinelli e Vincenzo Romano, a religiosa alemã Maria Katharina Kasper e a espanhola Nazaria Ignacia March Mesa.
No caso de Paulo VI, o milagre teria acontecido em 2014, quando uma mãe rezou ao finado papa pelo nascimento de Amanda, que chegou ao mundo depois de seis meses e meio de gravidez”
CACO BRAILE, agente de turismo em Londrina