Folha de Londrina

RITMO LENTO

Metade do trajeto entre Londrina e Paranaguá é feito em pista simples; obras seguem em ritmo lento

- Celso Felizardo Reportagem Local

A previsão de término das obras de duplicação da PR-376, a Rodovia do Café, é para 2021, mas vários setores têm dúvidas se o prazo será cumprido. Para mostrar as dificuldad­es de locomoção, a reportagem da FOLHA percorreu os 270 quilômetro­s entre Londrina e Ponta Grossa, nos Campos Gerais. Duplicação é uma das principais cobranças de entidades e da sociedade civil organizada de Londrina

Dos 485 quilômetro­s que separam Londrina do Porto de Paranaguá, praticamen­te metade do percurso é feito em pista simples. A falta de uma infraestru­tura mais robusta coloca a segunda maior cidade do Estado em desvantage­m nos rankings de competitiv­idade econômica em relação a outras cidades do Interior. As obras de duplicação da PR-376, a Rodovia do Café, seguem em ritmo lento. A previsão de término é para 2021, quando vence a concessão da rodovia, porém vários setores têm dúvidas se o prazo será cumprido. Para mostrar as dificuldad­es de locomoção, a reportagem da FOLHA percorreu os 270 quilômetro­s entre Londrina e Ponta Grossa, nos Campos Gerais.

Nas primeiras horas da manhã, o carro da reportagem deixa para trás a área urbana de Londrina, cruzando os viadutos do trecho duplicado da PR-445. As obras no trecho de 17 quilômetro­s entre Cambé e Londrina começaram em 2013 e custaram cerca de R$ 44,2 milhões aos cofres públicos. Outros cinco quilômetro­s foram duplicados pela concession­ária que administra o trecho. Dois viadutos apresentar­am problemas estruturai­s e foram entregues quatro anos após o início das obras.

PR-445

É pela PR-445, em um trecho de 80 quilômetro­s, que o viajante que sai de Londrina tem de percorrer até chegar à Rodovia do Café, em Mauá da Serra. O relevo acidentado, que destoa da área urbana de Londrina, já anuncia os trechos de serra que virão pelo caminho. O trecho de 15 quilômetro­s que ligam Londrina ao Distrito de Irerê deve começar a ser duplicado ainda este mês. Além da duplicação, estão previstas a construção de 12 trincheira­s, viadutos e o alargament­o da ponte sobre o Ribeirão dos Aperta- dos. A empresa vencedora da licitação apresentou o valor de R$ 93 milhões para entregar a obra.

As condições atuais do trecho da rodovia são motivo de reclamação dos usuários. Dono de uma propriedad­e em Irerê, Carlos Silva diz que percorre os trechos todos os dias e que, pelo menos uma vez ao mês, se desloca até Curitiba. “Pegar um carro nessas rodovias é muito perigoso. Tem muita gente imprudente que quer ultrapassa­r onde não dá. Com uma pista duplicada melhora bastante”, comenta.

Após Irerê, a rodovia torna-se ainda mais sinuosa e a paisagem é dominada pelas plantações de pinus. Próximo ao trevo de acesso ao distrito de Guaravera, sulcos e elevações no asfalto tornam a viagem mais arriscada. Cruzes ao longo da rodovia alertam para os riscos à direção. Radares controlam a velocidade dos veículos em trechos de longos declives. Se há os motoristas imprudente­s, também existem aqueles que se ajudam no trânsito.

Em trechos de subidas, os motoristas de veículos lentos se valem da linguagem das setas. O pisca da direita avisa ao motorista de trás que ele pode ultrapassa­r. A gentileza geralmente é retribuída com a buzina. “Na estrada, temos que ajudar um ao outro, só assim mesmo para chegarmos ao destino são e salvos”, comenta o caminhonei­ro Reinaldo Soares enquanto esperava o frentista abastecer o caminhão em um posto à margem da rodovia.

Pegar um carro nessas rodovias é muito perigoso; tem muita gente imprudente”

RODOVIA DO CAFÉ

Transposto­s os 80 quilômetro­s da PR-445 que passam por Londrina, Tamarana e Mauá da Serra, surge a Rodovia do Café. Logo no entroncame­nto, uma placa do governo estadual anuncia as obras de duplicação “Frente Mauá”. No entanto, a única duplicação feita na região de Mauá é a de um trecho de 15 quilômetro­s, na Serra do Cadeado. “Isso aqui antes de duplicar era uma das pistas mais perigosas do Paraná, com certeza. Muita curva fechada. Agora ficou bem melhor para quem dirige”, contou a vendedora de artesanato­s Helena dos Santos, 43. “Para a gente ficou pior, porque quem está na outra pista não tem como vir até à barraca”, lamenta. “Tudo tem um lado bom e outro ruim, não é? Mas nesse caso, o que mais importa é a segurança das pessoas”, avalia.

Após a descida da serra, o primeiro povoado ao longo da BR-376 é o Bairro dos França, em Ortigueira. Cerca de 2.000 pessoas moram no local e boa parte delas tira o sustento da rodovia. O ponto mais movimentad­o é o posto de combustíve­is, que tem loja de conveniênc­ia e restaurant­e. O principal temor dos moradores é que a rodovia seja desviada ou que a duplicação “divida” o bairro. Paula Deduch, a proprietár­ia do restaurant­e diz que tem tentado, sem sucesso, agendar uma reunião com o DER (Departamen­to de Estradas de Rodagem). “Nós queremos ser ouvidos. Ninguém é contra a duplicação, mas ela tem que ser feita de modo que não prejudique ninguém. Temos muitos idosos aqui que precisam transitar da casa para a igreja, para o mercadinho. Para fazer isso, só atravessan­do a pista”, conta.

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Gustavo Carneiro
 ?? Fotos: Gustavo Carneiro ?? A previsão de término das obras de duplicação da PR-376, a Rodovia do Café, é para 2021, quando vence a concessão da rodovia
Fotos: Gustavo Carneiro A previsão de término das obras de duplicação da PR-376, a Rodovia do Café, é para 2021, quando vence a concessão da rodovia
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Paula Deduch é proprietár­ia de um restaurant­e e tenta agendar uma reunião com o DER: “Nós queremos ser ouvidos”
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“A ligação entre a capital e as duas maiores cidades do interior tem de ser duplicada logo”, cobra o caminhonei­ro José Luz da Costa

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