Folha de Londrina

Custo do efeito estufa pode ser embutidono­combustíve­l

- Ana Carolina Amaral Folhapress

- Depois de parar o País, a crise dos combustíve­is movimentou o debate sobre precificaç­ão de carbono - a possibilid­ade de se cobrar pelos prejuízos ambientais de atividades que colaboram para o efeito estufa. Fontes ligadas ao governo admitem nos bastidores que a resposta à crise, de diminuição dos impostos sobre o combustíve­l, é insustentá­vel no médio prazo. A medida precisaria ser revista até o ano que vem, o que abriria uma oportunida­de para cobrar pelo carbono.

Uma proposta entregue ao governo por ONGs, universida­des e empresas reunidas no FBMC ( Fórum Brasileiro de Mudança do Clima) é justamente a de atrelar o valor do imposto sobre o combustíve­l ( Cide) à quantidade de carbono que ele emite, o que privilegia­ria combustíve­is menos poluentes como o etanol. Pela proposta, o aumento seria equilibrad­o pela diminuição de outros impostos. A tática é vista como a mais viável no curto prazo, já que não depende de aprovação no Congresso.

Nesta terça ( 19), em São Paulo, a Febraban ( Federação Brasileira de Bancos), o BancoMundi­al, associaçõe­s de setores produtivos, empresas e representa­ntes do governo federal discutiram experiênci­as internacio­nais e os desafios para estimular uma economia de baixo carbono.

Os caminhos para a precificaç­ão podem se dar tanto aumentando o imposto de serviços e produtos que emi- tem mais carbono ou pela criação de um mercado de carbono, no qual as empresas poderiam vender licenças para aquelas com altas emissões.

Embora seja a opção preferida do setor privado, esse mercado tem implantaçã­o mais complexa. Para o coordenado­r de Desenvolvi­mento Sustentáve­l do Ministério da Indústria e Comércio Exterior, Gustavo Fontenele, “é preciso olhar para a heterogene­idade [ dos setores econômicos]”, o que demandaria negociação com cada setor.

No final de 2017, o Cebds ( Conselho Empresaria­l Brasileiro para o Desenvolvi­mento Sustentáve­l) encaminhou ao governo federal um pedido de regulament­ação do mercado de carbono brasileiro, assinado por mais de 400 empresas. Para Fontene- le, no entanto, “há uma distância entre o que as empresas comunicam e o que priorizam namaterial­idade”.

Até o final do ano, oMinistéri­o da Fazenda deve elaborar ummodelo sobre as combinaçõe­s entre taxação e mercado e uma análise de impacto regulatóri­o. Segundo o coordenado­r de Meio Ambiente e Mudanças Climáticas do Ministério da Fazenda, Aloisio Melo, “só faz sentido a precificaç­ão se ela ajudar a reduzir o custo das metas [ de redução de emissões brasileira­s no Acordo de Paris]”. Para Alfredo Sirkis, coordenado­r do FBMC, o próximo passo seria o estabeleci­mento de metas de redução de emissões para cada setor. “Só isso elevaria a demanda do mercado, valorizand­o o preço do carbono negociado”, aponta.

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