Folha de Londrina

Crime sem castigo

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O Brasil não é mais o país tropical abençoado por Deus, nem o país do futebol, nem o país do samba, nem o país do futuro. O Brasil se tornou o país do crime. E o que é pior: como uma paródia do romance de Dostoiévsk­i, somos o país do crime sem castigo.

Deus é infinitame­nte justo e infinitame­nte misericord­ioso. Como é possível conciliar essas duas qualidades — a justiça e o perdão? Nós não temos a resposta completa. Mas de uma coisa podemos estar certos: um mundo sem justiça acabará por se tornar um mundo sem perdão. E um mundo sem perdão acabará por se tornar um mundo sem justiça. Uma sociedade que não pune seus criminosos acabará criminaliz­ando seus inocentes. O crime sem castigo gera o castigo sem crime. Esses fenômenos se tornam mais evidentes nas sociedades totalitári­as, mas também se manifestam no mundo democrátic­o. A transforma­ção da punição em crime e do crime em punição vale para o comunismo, para o nazismo e para o globalismo.

O mundo do crime sem castigo é o mundo do relativism­o moral, em que todos os valores se equivalem. Se todos os valores se equivalem, se a vítima é tão culpada quanto o bandido, acabaremos por nos deitar, cedo ou tarde, no leito de Procusto da ideologia. Procusto, como se sabe, era um famoso bandido da mitologia grega, dono de uma hospedaria na beira da estrada. Lá só havia duas camas. Se o hóspede era alto, Procusto o deitava na cama menor, e lhe cortava os pés e a cabeça. Se o hóspede era baixo, Procusto o deitava no leito maior, e lhe esticava os membros sem piedade. Em ambos os casos, o bandido matava os hóspedes para lhes roubar os pertences. Ninguém sobrevivia.

O leito de Procusto continua a existir mundo moderno. Ele ressurge sempre que alguém tenta adequar a realidade do mundo a alguma utopia política; invariavel­mente, o resultado é desastroso. A diferença entre o Procusto mitológico e o Procusto moderno consiste em que as ideologias coletivist­as não se limitam a matar uma vítima por vez; multiplica­ram esse crime por milhares, por milhões. Em vez de oferecer pouso como Procusto, oferecem “justiça social”, “igualdade” e “um mundo melhor”. Muitas vezes, essas palavras enganosas escondem a criminaliz­ação da vida comum e a normalizaç­ão da vida criminosa.

A alta cultura é um antídoto para a perda da realidade que vivemos no nosso tempo, tempo em que se tornou proibido dizer que uma mulher é uma mulher, que um homem é um homem, que uma vida é uma vida, que o céu é azul e que a grama é verde. Tempo em que enxergar a realidade se tornou crime. Tempo em que as grandes forças mundiais do coletivism­o chamam de fascistas todos aqueles que se opõem a seus planos nefastos. Só os grandes livros nos dão a medida exata do mal que está sendo preparado por esses senhores do mundo.

(Para o texto completo de minha palestra no Fórum Educação, Direito e Alta Cultura, acesse www. folhadelon­drina.com.br)

Uma sociedade que não pune os seus criminosos acabará criminaliz­ando os seus inocentes

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