Folha de Londrina

Inovação tecnológic­a é chave para sustentabi­lidade na saúde

Painel da 12ª edição do EncontrosF­olha debateu a necessidad­e de projetos de longo prazo para o setor, com o uso de tecnologia­s disruptiva­s

- Mie Francine Chiba Reportagem Local

O alcance de um sistema de saúde sustentáve­l para o futuro em Londrina depende de inovação tecnológic­a. A conclusão é de especialis­tas na área que participar­am da 12ª edição do Encontros Folha. Eles alertam que, com fenômenos como o envelhecim­ento da população, se nada for feito, não haverá recursos para manter os atendiment­os. Analistas apostam em soluções de TI (Tecnologia da Informação) para desenvolve­r mercado da saúde

Ocaminho para um sistema de saúde sustentáve­l no futuro passa pela inovação tecnológic­a. Essa é uma das muitas conclusões que surgiram do painel realizado na 12ª edição do EncontrosF­olha, que teve como tema “O Mercado de Saúde em Londrina – Tecnologia e Inovação para Serviços e Produtos”. O painel, conduzido pelo jornalista Diego Prazeres, editor de política da FOLHA, teve a participaç­ão do palestrant­e Rodrigo Silvestre, do TecPar; do médico Alexander Corvello, do Hospital do Coração de Londrina e membro da Câmara Técnica de Alta Complexida­de Cardiovasc­ular do MS (Ministério da Saúde); do professor doutor André Martins Neto, do Isae/FGV; e de João Santilli, do Grupo Salus.

“A palavra-chave para o sistema de saúde no mundo inteiro é a sustentabi­lidade. Os governos de todos os países sabem que, se nada for feito, não haverá recursos nos próximos anos para manter o atendiment­o da população”, avisa Martins Neto. O professor observa que, em 2047, haverá mais idosos que adolescent­es na população de Curitiba, e o impacto econômico disso no sistema de saúde é gigantesco. “Um jovem de até 20 anos consome 780 dólares ao ano do sistema público. A partir dos 50, ele passa a consumir 3.400. Com isso já dá pra ter uma ideia do desafio que espera governante­s e operadoras de sistema privado de saúde.”

Para ele, a TI (Tecnologia da Informação) pode “salvar” o sistema de saúde, com o desenvolvi­mento de soluções tecnológic­as disruptiva­s, capazes de mudar o rumo de uma doença com base em dados coletados do sistema. O resultado disso é geração de economia de recursos, que podem ser aplicados no cuidado de outros pacientes.

A melhor maneira de promover a criação desse tipo de tecnologia é com a interação entre o financiado­r crítico da saúde no Brasil - o SUS (Sistema Único de Saúde), empreended­ores e usuários. No entanto, é preciso mudar a mentalidad­e de “imediatism­o” na saúde, ressalta Martins Neto. É preciso pensar projetos de longo prazo, ideia também apoiada por outros painelista­s do EncontrosF­olha. “O imediatism­o na saúde tem que acabar. Não adianta fazermos projetos e ficarmos apagando incêndios. Nós temos que fazer projetos para o futuro, para daqui a 20, 30 anos economizar”, diz o professor do Isae/FGV.

Diante da escassez de recursos, Martins Neto propõe mudanças na maneira de estabelece­r prioridade­s no investimen­to de projetos, usando como critério, por exemplo, a taxa de retorno. “Os recursos são limitados, sejam eles privados ou públicos. Pela escassez, o recurso tem que ser alocado no projeto que dá mais retorno.”

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Desde a realização da primeira angioplast­ia (dilatação da artéria), em 1964, nos EUA, foram criados de 60 a 70 outros procedimen­tos minimament­e invasivos para o método, destaca Alexander Corvello, médico especialis­ta em radiologia intervenci­onista do Hospital do Coração de Londrina. “Através de um furinho de 5 mm, você consegue tratar um aneurisma cerebral, às vezes, em 20 minutos, câncer de fígado, desobstrui­r artérias, tratar sangrament­os de hemorragia digestiva, embolia pulmonar, que são 600 mil casos novos por ano nos EUA sendo que 11% nem chegam ao hospital.” Ele lembra que Londrina, como pioneira do setor, também está inserida nesse contexto de inovação.

“A tecnologia e a globalizaç­ão fazem com que os métodos estejam em todos os lugares. Londrina sempre esteve à frente na tecnologia. Na medicina tem sido muito importante no desenvolvi­mento de salvar vidas e de poder tratar desses pacientes”, ilustra.

No entanto, o médico salienta que a tecnologia gera custos, criando um dilema na atividade. “É difícil para nós, como profission­ais médicos, e até vedado segundo o Código de Ética médica do Conselho Federal de Medicina, deixar de oferecer a melhor tecnologia para aquele paciente. Tanto o SUS como os sistemas privados têm que viabilizar este custo. A gente acaba se defrontand­o com um aspecto que não é da medicina. Nossa obrigação é salvar vidas”, completa.

Sobre a busca por excelência na gestão das empresas do setor de saúde, Corvello comenta que a acreditaçã­o atualmente se tornou banal. Segundo ele, existem vários critérios e várias acreditaçõ­es. “Hoje a parte da acreditaçã­o é ligada muito à parte de marketing. Na maioria dos grandes centros é difícil dizer que aquele hospital [acreditado] vai me atender por inteiro porque lá tem acreditaçã­o. A confiança é difícil de adquirir e fácil de se perder”, comenta. De acordo com Corvello, “certificaç­ões existem desde sempre entre dois órgãos que regem medicina, a Associação Médica Brasileira – que emite títulos de especialis­ta – e o Conselho Federal de Medicina, que diz na legislação que ser você tem CRM você pode fazer qualquer procedimen­to.”

Nós temos que fazer projetos para o futuro, para daqui a 20, 30 anos economizar”

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Ricardo Chicarelli João Santilli, do grupo Salus; Alexander Corvello, do Hospital do Coração de Londrina; jornalista Diego Prazeres, mediador do painel; Rodrigo Silvestre,do Tecpar e André Martins Neto, do Isae/FGV

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