Pecuaristas ainda precisam buscar mais tecnologia para cadeia bovina
O Brasil possui o maior rebanho de gado de corte e leite do mundo. São 220 milhões de cabeças que deveriam colocar o País indiscutivelmente no topo mundial da produção de carne e de leite, mas gargalos tecnológicos e uma série de outros fatores posicionam o País em 2º e 4º lugares no ranking, respectivamente. Pacotes tecnológicos “made in Brazil” existem para galgar melhores posições, mas os pecuaristas precisam buscá-los.
Todo esse conteúdo científico da cadeia bovina – principalmente ligado à produção de carne e reprodução animal - está sendo discutido e apresentado para 800 participantes no 8º Simpósio Internacional de Reprodução Animal Aplicada (Siraa), que começou quarta-feira e segue até hoje (2), em Londrina. O evento é promovido pela MSD Saúde Animal em parceria com a Geraembryoe e traz inclusive especialistas de outros países, como Israel, Canadá, Estados Unidos e Argentina.
O coordenador do evento e professor da USP (Universidade São Paulo), Pietro Sampaio Baruselli, é doutor especialista em reprodução animal. Ele explica que os índices reprodutivos do País ainda são muito baixos. “Hoje já induzimos a ovulação de uma vaca em períodos pós-parto bem precoces, para produzir um bezerro por ano. Mas hoje nossas vacas produzem 0,6 bezerro por ano (no Brasil). Isso está sendo discutido no simpósio, mas não apenas quantidade, mas também qualidade, com genética”, avalia. Para Baruselli, um dos gargalos é a ponte entre o pecuarista e a ciência, que ainda possui “um gap” no Brasil. “A ciência evoluiu, temos conhecimento de pacotes tecnológicos que são melhores do mundo, mas que não conseguem chegar ao produtor”, complementa.
O diretor da unidade de negócios de ruminantes da MSD, Henrique Casagrande, salienta que o simpósio está cobrindo temas que vão além da reprodução bovina. “Já tivemos palestras relacionadas à qualidade de carne, quais tipos o Brasil precisa produzir para atender os mercados que está buscando.”
Ele também cita como ainda é baixa no País a utilização da inseminação artificial a tempo fixo, em torno de 10% a 12% dos casos, fundamental para auxiliar a produção de bezerros de forma mais eficaz, aproveitando todo o potencial genético do rebanho. “Esse percentual tem melhorado, mas o potencial pode aumentar ainda mais.”
Na concepção de Casagrande, outro ponto bastante importante que os pecuaristas precisam se atentar para evoluir em performance, além da aplicação desse tipo de tecnologia, é a utilização eficiente no uso de recursos naturais, incluindo pastagem e grão, por exemplo. “É preciso maximizar o que o Brasil nos oferece em recursos naturais para a produção de proteína animal. Na Austrália, por exemplo, como disse um dos nossos palestrantes, a cada três anos acontece uma seca tão agressiva que diminui o plantel dos animais em 10%. Temos abundância de recursos e precisamos otimizar da forma correta para produzir proteína.”
Por fim, além dos concorrentes internacionais de bovinos, a pecuária brasileira ainda compete com outras atividades como avicultura e suinocultura, cada fez mais fortes dentro do País. “São atividades de performance e baixo custo de produção. Precisamos acelerar esses conceitos para competir com nossos concorrentes.”