Seis prefeitos foram indiciados nos últimos 20 anos
Justiça nega indisponibilidade de bens de Marcelo Belinati, denunciado pelas distorções no IPTU do condomínio onde mora
Seis dos oito prefeitos de Londrina que ocuparam o cargo nas últimas duas décadas foram alvo de ações movidas pelo Ministério Público. Apenas dois, Antonio Belinati e Barbosa Neto, perderam o mandato, mas após cassações pela Câmara Municipal. Marcelo Belinati foi denunciado sob a acusação de não corrigir distorções na cobrança do IPTU no condomínio onde mora. MP apura supostas mudanças no traçado do Arco Leste em áreas próximas a propriedade do ex-prefeito Alexandre Kireeff.
Denunciado pelo Ministério Público nesta semana por improbidade administrativa, Marcelo Belinati (PP) repete uma “tradição” em Londrina: ele é o sexto dos oito prefeitos que governaram a cidade nos últimos 20 anos a ser indiciado no exercício do cargo. E desses oito, só dois perderam de fato o mandato - Antonio Belinati, tio do atual prefeito, em 2000, e Barbosa Neto, em 2012. Ambos foram cassados politicamente na Câmara Municipal.
Marcelo Belinati foi denunciado nesta semana sob a acusação de beneficiar proprietários do condomínio onde mora, além de familiares donos de outros terrenos, com as distorções na revisão da Planta Genérica de Valores. No entendimento do MP, o prefeito foi omisso ao não comunicar os erros publicamente e promover as alterações.
Os promotores Renato de Lima Castro e Ricardo Benvenhu pediram a indisponibilidade de bens do prefeito no valor de R$ 1,6 milhão, o que foi negado no final da tarde de quinta-feira (2) pelo juiz da 1ª Vara da Fazenda Pública, Marcos José Vieira (leia mais nesta página).
Além dos dois Belinati, também foram indiciados por improbidade administrativa enquanto governavam a cidade Nedson Micheletti (2001-2008), Barbosa Neto (2009-2012), José Joaquim Ribeiro (agosto e setembro de 2012) e Gerson Araújo (setembro a dezembro de 2012). Todos negaram as acusações sustentando que a maioria das ações foi revertida na justiça. No levantamento feito pela FOLHA, apenas José Roque Neto (janeiro a maio de 2009) e Alexandre Kireeff (2013-2016) passaram ilesos, embora o MP confirme ter aberto investigação sobre suposta mudança que teria sido feita durante a gestão de Kireeff no traçado do projeto Arco Leste na região onde está localizada uma área da família do ex-prefeito (veja box).
ANTONIO BELINATI
Antes de ser cassado, Antonio Belinati (1997-2000) já havia sido investigado pelo MP por desvios milionários em contratos de capina e roçagem na investigação conhecida como “escândalo Ama/Comurb”, deflagrada no final dos anos 90. A Comurb era a extinta Companhia Municipal de Urbanização, hoje CMTU. Mas o episódio que motivou o julgamento político de Belinati tio na Câmara Municipal foram irregularidades constatadas na contratação de um show infantil para a inauguração do PAI (Pronto Atendimento Infantil). Ele teve o mandato cassado pelos vereadores em julho de 2000, e o então vice, Jorge Scaff, assumiu a prefeitura até dezembro.
NEDSON MICHELETTI
Nedson Micheletti (20012008), primeiro prefeito reeleito da história do município, também foi alvo de ações por improbidade administrativa. Uma delas foi formalizada em 2006, mas referente a um processo de 2003 que denunciara ilegalidade no pregão eletrônico para compra de equipamentos para reestruturação do sistema de servidores da Prefeitura.
BARBOSA NETO
Barbosa Neto (2009-2012), que assumiu o cargo quase um ano depois das eleições de 2008 por conta da suspensão pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) do pleito que havia eleito Antonio Belinati – então com os direitos políticos suspensos –, foi indiciado em ao menos quatro ações antes de também ser cassado pela Câmara. A que resultou na interrupção do mandato denunciava o pagamento, com recursos da prefeitura, da empresa que prestava serviço de vigilância na rádio de propriedade da família de Barbosa. Outra ação denunciava suposto esquema de pagamento de propina por empresas que forneciam uniforme escolar ao município. Teve também a que apontava a contratação de uma empresa que deveria ter ministrado o curso de formação da então recém-implantada Guarda Municipal, sendo que as aulas na realidade foram dadas por policiais militares.
JOAQUIM RIBEIRO
Vice-prefeito de Barbosa, José Joaquim Ribeiro assumiu a prefeitura em agosto de 2012, mas renunciou no mês seguinte para não ser alvo de nova comissão processante na Câmara. Ribeiro, já como prefeito, foi indiciado pelo Ministério Público em inquérito sobre as fraudes nos uniformes. Ele chegou a ser preso em setembro de 2012 após relatar ao Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) que ficou com R$ 50 mil dos R$ 150 mil pagos em propina por empresas que forneceram os uniformes na gestão de Barbosa Neto.
GERSON ARAÚJO
Outro prefeito a ser alvo de ação do MP por improbidade administrativa foi Gerson Araújo, que na condição de presidente do Legislativo municipal em 2012 tomou posse na prefeitura com a renúncia de José Joaquim Ribeiro. Mesmo tendo ocupado a chefia do Executivo por três meses (setembro a dezembro), Araújo acabou sendo denunciado por suposto favorecimento à Construtora Iguaçu do Brasil na negociação de um terreno localizado em frente ao kartódromo de Londrina, na zona norte. Segundo o MP, o então prefeitotampão e seu assessor teriam forçado os proprietários a vender a área para a construtora. Em fevereiro deste ano, Gerson Araújo foi condenado em primeira instância pela Vara de Fazenda Pública de Londrina a perda da função pública na administração e suspensão de direitos políticos por quase três anos. O vereador recorreu ao Tribunal de Justiça.