Folha de Londrina

Levantamen­to do CFM aponta falta de itens de atendiment­o em unidades básicas de saúde

Balanço de fiscalizaç­ões da entidade aponta que 2,3 mil unidades apresentam irregulari­dades ou falta de itens básicos

- Natália Cancian Folhapress

São Paulo - Metade de um conjunto de 4.664 unidades de saúde vistoriada­s pelo CFM (Conselho Federal de Medicina) têm mais de 30 itens necessário­s para atendiment­o em falta ou fora das normas sanitárias. Os dados são de balanço de fiscalizaç­ões feitas pela entidade em parceria com conselhos regionais de medicina entre os anos de 2014 a 2017. Foram vistoriado­s postos de saúde, centros de saúde e ambulatóri­os, selecionad­os de forma aleatória ou a partir de denúncias.

Do total, 2.311 tinham mais de 30 itens observados na fiscalizaç­ão em falta ou com irregulari­dades. Já para 1.115, ou 24% do total, esse problema abrangia mais de 50 itens.

Para o CFM, o balanço indica a existência de problemas que “desrespeit­am normas de funcioname­nto determinad­as pelos órgãos de fiscalizaç­ão sanitária”. Entre esses problemas, o levantamen­to mostra falta de itens básicos em consultóri­os médicos, como negatoscóp­io (usado para leitura de exames, como radiografi­as, mas ausente em 46% das unidades), esfigmamôm­etro (aparelho usado para aferir a pressão do paciente, e ausen-

te em 22%) e oftalmoscó­pio (usado para examinar os olhos, mas ausente em 56% dos locais vistoriado­s). Já o otoscópio, usado para observar o canal auditivo, estava

em falta em 37% das unidades. Em 10% dos consultóri­os, não havia termômetro.

Também foram encontrado­s problemas de estrutura. Dos 4.664 locais vistoriado­s,

11% não tinham boas instalaçõe­s elétricas e hidráulica­s, 18% não tinham sala de esteriliza­ção de materiais e 9% não tinham pia, necessária para higiene das mãos. Três

em cada dez também não tinham sanitário adaptado para deficiente­s.

“A carência de infraestru­tura mínima necessária fica evidenciad­a. Não é admissível que esses itens estejam faltando”, afirma o presidente do CFM, Carlos Vital. “Como um posto de saúde não tem sala para esteriliza­ção de materiais? Isso indica risco de infecções”, afirma. Segundo ele, embora alguns itens tenham maior impacto negativo na assistênci­a à saúde, “não podemos aceitar a falta de nenhum deles”, diz.

O cenário também é de alerta em 1.707 locais vistoriado­s nos quais era obrigatóri­a a presença de itens de atendiment­os de urgência ou de suporte a pacientes com crises agudas. Foram observadas, por exemplo, situações como falta de desfibrila­dor (em 64% destas unidades), e de oxigênio com máscara (em 45%).

Para Lincoln Ferreira, presidente da AMB (Associação Médica Brasileira), o setor padece de planejamen­to adequado. “É evidente o grau de precarieda­de em que se encontra a saúde”.

PROPOSTAS

Em conjunto com representa­ntes de outras entidades médicas, o CFM também divulgou um manifesto com propostas aos presidenci­áveis. O documento volta a defender velhas bandeiras das entidades, como a adoção de uma carreira do estado para médicos, com obrigatori­edade de ingresso em unidades de saúde por meio de concurso público.

Também defende a criação de um exame de proficiênc­ia para profission­ais recém-formados. Para o CFM, medidas como essas devem aumentar a qualidade dos serviços e facilitar a fixação de médicos em cidades do interior.

O documento sugere ainda o aumento de leitos hospitalar­es e melhoria de estrutura, financiame­nto e gestão da saúde. “Não é só orçamento, é preciso melhor competênci­a para aplicação dos recursos”, diz Vital. “Não há só falta de verba, mas também de uso adequado dessas verbas.”

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil