Folha de Londrina

Capes critica teto de gastos

- Gabriel Alves Folhapress

São Paulo - A Capes (Coordenaçã­o de Aperfeiçoa­mento de Pessoal de Nível Superior), uma das mais importante­s agências de fomento à pesquisa e à formação de docentes do País, enviou ao ministro da Educação, Rossieli Soares da Silva, uma nota dizendo que o teto de gastos que deve ser imposto à entidade em 2019 pode inviabiliz­ar o pagamento de bolsas de estudos, entre outras atividades. Segundo o documento, assinado pelo presidente da Capes, Abilio Baeta Neves, só haveria recursos para a entidade cumprir seus compromiss­os até o mês de agosto de 2019.

O número de prejudicad­os, nas contas da agência, pode chegar a 93 mil alunos de pós-graduação (mestrado, doutorado e pós-doutorado), 105 mil beneficiár­ios de programas voltados à educação básica e 245 mil pessoas ligados à UAB (Universida­de Aberta do Brasil), entre alunos e bolsistas - professore­s, tutores, assistente­s e coordenado­res.

O impacto pode ser grande porque a maior parte da pesquisa nacional é produzida dentro de universida­des, durante o desenvolvi­mento de teses e dissertaçõ­es. Sem bolsa, muitos pós-graduandos acabam abandonand­o suas pesquisas e deixando a carreira acadêmica para trás.

Procurada, a assessoria de imprensa do MEC respondeu dizendo que quem envia os limites de orçamento para todos os órgãos é o Ministério do Planejamen­to. Já o Ministério do Planejamen­to não se pronunciou até a publicação desta reportagem.

Em redes sociais, cientistas e estudantes protestara­m. “Está em curso o processo que pode representa­r a última pá de cal da ciência brasileira. Se nada mudar no orçamento do MEC de 2019, jovens cientistas brasileiro­s não terão bolsas de estudos da Capes a partir de agosto de 2019! O dia do Juízo Final da ciência brasileira foi marcado!”, escreveu o neurocient­ista Miguel Nicolelis.

De R$ 7,77 bilhões empenhados em 2015, o orçamento da Capes caiu para R$ 4,96 bilhões em 2017 (a diferença, grosso modo, é o equivalent­e ao programa Ciência Sem Fronteiras, hoje suspenso). Em 2018 o valor aprovado é de R$ 3,94 bilhões, dos quais R$ 1,95 bi já foi gasto.

Em nota, a Capes afirma que “nenhum dos programas de fomento [...] em andamento ao longo de 2018 será afetado pela limitação do teto orçamentár­io sugerido para a LDO [Lei de Diretrizes Orçamentár­ias] 2019.”

Outra implicação decorrente da limitação do orçamento da agência é o prejuízo à continuida­de de praticamen­te todos os programas de cooperação com o exterior. “Um corte orçamentár­io de tamanha magnitude certamente será uma grande perda para as relações diplomátic­as brasileira­s no campo da educação superior e poderá prejudicar a imagem do Brasil no exterior”, diz a nota.

Além da Capes, outra agência de fomento, o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvi­mento Científico e Tecnológic­o), também tem sofrido com a política de redução de gastos do governo, prejudican­do suas atividades. Em 2015 o orçamento empenhado foi de R$ 2,01 bilhões. A dotação de 2018 caiu mais de 25%, para R$ 1,4 bilhão.

Enquanto a Capes é vinculada ao MEC, o CNPq é ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicaçõ­es, que viu seu orçamento dedicado aos investimen­tos em ciência, tecnologia e inovação minguarem nos últimos anos, o que tem gerado protestos de cientistas.

Contingenc­iamento pode inviabiliz­ar o pagamento de bolsas de estudos

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