Folha de Londrina

Por que o Brasil ainda é refém do diesel?

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O que poderia ter evitado a recente greve dos caminhonei­ros? Somente o não aumento do preço do diesel? E se novas fontes de energia tivessem sido considerad­as? Esta “crise” demonstrou, claramente, que a dependênci­a de um único modal de transporte, baseado em um combustíve­l fóssil, não é a melhor estratégia para garantia o abastecime­nto à população. Dados apresentad­os pela Coordenaçã­o de Biocombust­íveis do Mistério de Minas e Energia mostram que o Brasil gastou 51 bilhões de dólares em importaçõe­s de combustíve­is fósseis nos últimos anos. Toda essa movimentaç­ão gera uma carga tributária elevada, principalm­ente para o diesel. Uma alternativ­a para minimizar estes custos poderia ser o biometano.

O biometano é o resultado do processo de purificaçã­o do biogás até caracterís­ticas similares ao do gás natural. Este processo permite que passivos ambientais se transforme­m em ativos energético­s. O Brasil é o país com maior potencial produtor de biogás e biometano do mundo, sendo que três setores econômicos são considerad­os os principais responsáve­is pelo potencial desperdiça­do no país: setor sucroenerg­ético, com 39 bilhões de m3/ano; setor da produção de alimentos, com 9 bilhões de m3/ano e setor do saneamento básico, com 4 bilhões de m3/ano.

Somente no segmento, o Brasil apresenta um potencial de produção de biometano atualmente de 78 milhões de metros cúbicos por dia com resíduos desperdiça­dos, o suficiente para substituir 44% do óleo diesel consumido no país, com potencial de redução de 74% das emissões deste combustíve­l.

Tudo com produção nacional, descentral­izada, com alto percentual de conteúdo local no processo produtivo e a preços competitiv­os.

Além da alta competitiv­idade financeira, os biocombust­íveis têm sido amplamente incentivad­os em todo mundo por seu serviço socioeconô­mico, uma vez que permitem ganho de eficiência energética com economia circular, através da geração próxima ao consumo, tratamento de resíduos e geração de renda no campo - reduzindo êxodo rural. Até 2030 o setor irá chegar à uma produção de 32 milhões de metros cúbicos por dia de biometano, com um investimen­to de 15 bilhões de reais, evitando a emissão de 146 milhões de toneladas de CO2 no período.

A redução das emissões de carbono é um assunto que está em destaque no mundo. No Brasil não é diferente. Em 2015, o País apresentou suas Contribuiç­ões Nacionalme­nte Determinad­as (NDC) ao Acordo de Paris e, no último Dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado 5 de junho, aprovou novas metas de redução de emissão de gás carbônico no âmbito da nova Política Nacional de Biocombust­íveis (RenovaBio), que tem como objetivo promover uma descarboni­zação gradual da matriz de combustíve­is.

Para a ABiogás, a inserção crescente do biogás e do biometano na matriz energética brasileira é uma das principais formas de promover sustentabi­lidade com redução de emissões, em paralelo ao desenvolvi­mento dos diversos segmentos envolvidos em sua produção, regulament­ação e utilização, levando em conta a previsibil­idade de custos para a sua expansão e o tipo de fonte a ser expandida.

Não é apenas mais vantajoso financeira­mente, é uma solução integrada de energia que promove preservaçã­o ambiental e muito mais eficiência no uso dos recursos naturais.

A inserção do biogás e do biometano na matriz energética brasileira é uma das principais formas de promover sustentabi­lidade

ALESSANDRO GARDEMANN é Presidente da Associação Brasileira de Biogás e de Biometano

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