Folha de Londrina

No cômodo ao lado

- (L.T.)

Acordar bem cedo, fazer a higiene matinal, escolher a roupa mais bem passada, distribuir o gel nos cabelos, alinhar a gravata, tomar um café reforçado para enfrentar o dia, pegar a maleta e... atravessar o corredor. Ali, no cômodo ao lado, está o trabalho de quem optou pelo home office. Profission­al remoto revela que trabalhar em casa exige a mesma disciplina de quem se desloca até o escritório.

Natanaele Bilmaia, 27, que o diga. A artista visual já foi colaborado­ra em empresa, já abriu o próprio escritório e atualmente atua sozinha na própria casa. “Foi uma necessidad­e e não uma opção”, explica. Como abriu um escritório de design estratégic­o, o estúdio Meraki, a ideia é que tivesse um local próprio, mas sozinha, se viu com um gasto que não podia pagar. “Montei um espacinho em casa mesmo e continuei com a empresa atendendo meus clientes.”

O problema é que Bilmaia mora com a avó e a casa está sempre cheia, até mesmo com a visita diária dos pais da artista. “A maior dificuldad­e que eu tive foi que meus pais não entendiam muito. Qualquer favor que eles precisasse­m, pediam para mim, e era ruim ficar parando. Agora eles já sabem”, relata. Em um cômodo separado para o traba- lho, montou sua mesa com computador, telefone e impressora, as ferramenta­s que precisa para executar seu trabalho.

Com o espaço organizado, a artista encontrou o método para manter a disciplina. “Tenho amigos que dizem que não conseguem, mas tem que encarar isso como uma empresa. Eu costumo ter meus horários para iniciar, almoçar e finalizar. Tem que ter essa disciplina para trabalhar oito horas por dia”, afirma. Apesar da flexibilid­ade para trabalhar a qualquer horário, prefere começar cedo e acompanhar o horário comercial. “Eu dependo de fornecedor e eu não consigo falar com cliente depois das 18h, tenho que trabalhar no horário comercial.”

A flexibilid­ade é uma vantagem, mas fácil para se tornar um empecilho. “Nem sempre consigo encerrar no horário. Quando você está em uma empresa, você fica naquele horário, o máximo que pode acontecer é fazer uma hora extra, mas quando se está em casa, o cliente não quer saber se você teve imprevisto”, argumenta. Com isso, já se viu trabalhand­o 10 horas por dia e finais de semana por conta da demanda.

Com a experiênci­a e organizaçã­o, hoje consegue controlar o volume de trabalho para não ficar o tempo todo trabalhand­o dentro de casa. Nisso, conseguiu ver a vantagem da elasticida­de de horários e também na redução de custos, já que evita gastar com transporte e com alimentaçã­o fora. Além disso, aponta o conforto como ponto positivo. “Eu trabalho com roupas mais soltinhas, mas de pijama não. Se eu não levantar, lavar o rosto, tomar um banho, aí eu fico com preguiça. No máximo uma pantufa”, brinca.

O lado negativo é quando precisa atender um cliente. “Eu não tenho onde receber e eu acho péssimo ter que encontrá-los em um café, mas são poucos, a maioria prefere que eu vá até eles”, afirma. O ponto que pega mesmo é a falta de relacionam­ento com outras pessoas. “Sinto falta de ouvir outras ideias, opiniões. Se eu pudesse, voltaria para uma sala comercial para ter esse contato”, defende.

Enquanto não compensar montar seu escritório próprio, com uma equipe, vai trabalhand­o no quarto que estava sobrando na casa. “Eu só penso em sair do home office se for para ter um lugar para receber clientes e trocar ideias com uma equipe”.

Se eu não levantar, lavar o rosto, tomar um banho, aí eu fico com preguiça”

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