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Lançado em comemoração aos 110 anos da Imigração Japonesa no Brasil, o livro ‘Haikai do Paraná’ reúne textos de escritores famosos e anônimos
Estilo poético oriental que valoriza a concisão e objetividade, o haikai chegou ao país no início do século XX trazido pelas mãos dos imigrantes nipônicos. Os poemas do gênero que tradicionalmente são escritos em três linhas formadas por 17 sílabas acabou ganhando a adesão de vários escritores brasileiros, incluindo muitos paranaenses – famosos e anônimos. Uma representativa parcela destas obras foi reunida no recém-lançado livro “Haikai do Paraná”, editado em comemoração aos 110 anos da Imigração Japonesa no Brasil.
Publicado por iniciativa da Associação Paranaense de Ex-Bolsistas Brasil Japão (Apaex), o livro é fruto de pesquisa e trabalho da escritora e historiadora curitibana Tereza Hatue de Rezende, que incluiu na coletânea poemas no estilo haikai e tanka (poemas curtos) de autores paranaenses anônimos e famosos como Paulo Leminski, Alice Ruiz e Helena Kolody, totalizando 39 autores. Dentre os londrinenses, também estão nomes como Maurício Arruda Mendonça, Bernardo Pellegrini e Karen Debértolis.
Tereza comenta que o fato de conhecer pessoalmente muitos dos escritores, devido ao período em que lecionou literatura brasileira na Universidade Estadual de Londrina (UEL) e ter trabalhado por quase 20 anos na Secretaria de Estado da Cultura, facilitou a reunião de um material tão vasto para o livro. “Devido ao networking literário, consegui reunir as mais expressivas vozes, tanto em língua portuguesa quanto japonesa”, argumenta.
A curadora destaca que a publicação conta com poemas que abordam temáticas diversas. “Os temas são muito variados entre os que produzem em português. Interessante é a parte japonesa: temas como pinhão, guaraná em grão, quermesse, rios Iguaçu e Amazonas são frequentes. A presença dos kigôs - a notação da estação em que se produz o poema - é respeitada pelos japoneses”, cita.
Ela ressalta ainda a diversidade de perfis dos escritores. “Temos poemas assinados por Sérgio Pichorim, que faz haikais em inglês, e Delores Pires, com haikais em francês, além de Marília Kubota, dona de haikais muito feministas. De Curitiba, temos o Seizo Watanabe, 93 anos, que faz haikai desde 14, ininterruptamente. E, em Londrina, temos a Kimie Ogawa e o casal de poetas Masako/Minoru Nakagawara, que mereceram medalhas concedidas por entidades do Japão.”
Apesar do contato direto com os autores, Tereza conta que enfrentou alguns obstáculos para montar a coletânea. “A maior dificuldade encontrei na área de produção japonesa: descendentes não guardaram, não valorizaram a produção literária de seus avós”, enfatiza ao relatar que também enfrentou desafios para realizar a tradução ou transcriação de alguns poemas nipônicos. “Muitos deles foram executados a pincel, no século passado e muitos caracteres (ideogramas) ultrapassados foram resgatados graças à consulta em dicionários de época”, comenta.
Segundo Tereza, apesar de atualmente contar com grandes poetas produzindo textos em haicai, o estilo nipônico enfrentou problemas quando chegou ao Brasil. “Quando Helena Kolody publicou os primeiros haikais no Paraná, pelos idos de 1946, ela foi crucificada pela crítica literária que só dava valor ao soneto. Somente quando se encontrou com Paulo Leminski, quase 40 anos depois, ela se aventurou a produzir não somente haikais mas também tankas. E, tanto se esmerou, que foi batizada pela colônia japonesa com o nome de poeta Reika, que quer dizer perfume de flor”, salienta.
Tradicionalmente, no Japão o haikai é escrito em três linhas, divididas em cinco, sete e cinco síbalas. Já no Brasil, o estilo acabou ganhando uma liberdade maior, conforme avalia a pesquisadora. “Acredito que Paulo Leminski - com seu estilo livre - e Alice Ruiz com os workkshops que realiza em todo o Brasil, já libertaram o haikai das amarras de 5,7,5 sílabas das três linhas que compõem o poema. E pouquíssima gente ainda cultiva o estilo guilhermino de composição”, argumenta.
Lançado em Curitiba no dia 18 de junho, data em que se comemorou os 110 anos de Imigração japonesa no Brasil, o livro “Haikai do Paraná”, conta com ilustrações em sumi-ê - pintura a pincel em aquarela a carvão – criadas pelo artista e designer Naotake Fukushima. De acordo com a curadora, em breve a publicação terá eventos de lançamento em Londrina e Maringá. No momento, o livro pode ser solicitado através do e-mail apaex1981@gmail.com.