Folha de Londrina

Férias na Serrinha

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Ao todo, tínhamos quatro meses de férias na escola. Quando chegava dezembro, ficávamos ansiosos porque, de vez em quando, viajávamos para a fazenda dos avós maternos - a Serrinha -, distante 4 km de Cássia dos Coqueiros (SP).

A mamãe passava dias preparando nossas malas. Na véspera, ela cozinhava pedaços de frango e colocava farinha de milho, fazia pão, bolo para comermos na viagem. Quando a família era pequena, íamos todos na cabine do caminhão Alfa Romeo com o papai. Quando aumentou, passamos a viajar de caminhonet­e. A carroceria era coberta de lona, forrada com acolchoado­s, cobertores, travesseir­os, e lá íamos para as nossas férias. Demorava mais de um dia para chegar porque até Ourinhos era estrada de terra. Lembro que, certa vez, pegamos tanta chuva que tivemos que passar a noite numa daquelas vendas à beira da estrada, em Cambará.

Era uma festa para nossos avós e tios a nossa chegada. Todas as manhãs, acordávamo­s cedo, corríamos até o curral, subíamos na cerca, cada um com sua canequinha de alumínio ou esmalte, com um pouco de café e ficávamos esperando o leite tirado na hora. Hum... que delícia, meu Deus! Meus tios Paulo, Dodô e Armando chamavam as vacas pelo nome: Sertaneja, Londrina, Maringá, Apucarana, Arapongas, Fumaça, etc. Todas as manhãs, eles e os empregados ordenhavam cerca de 50 vacas; algumas à tarde também. Colocavam o leite em latões próprios, deixavam na porteira da fazenda, o caminhão passava e entregava na Nestlé.

A casa era azul e branca, cômodos espaçosos como em todas as fazendas. Em frente, o terreirão de café, uma estradinha por onde o gado passava para ir pastar; em seguida, uma pequena montanha com uma porção de angicos. De vez em quando, subíamos lá no alto para ver a bela paisagem. A sala de jantar tinha uma mesa grande com cadeiras; num canto, a geladeira branca, meio arredondad­a, GE (General Eletric), e no outro tinha uma cantoneira onde ficava o rádio que o vovô na sua espreguiça­deira, e a vovó na sua cadeira de balanço, ouviam todos os dias o programa do Padre Donizetti, de Tambaú.

A iluminação vinha de um gerador que funcionava por uma bomba d’água que o vovô tinha na fazenda. Descia quatro degraus e já era a cozinha, com outra mesa com dois bancos ao redor, um enorme fogão a lenha e um forno, de onde saíam os pães, os bolos, as broas de fubá, pau-a-pique, biscoitos de polvilho e outras comidas deliciosas que a Zefa fazia para todos. Ao lado, uma despensa onde eram guardados os utensílios de

Todas as manhãs, acordávamo­s cedo, corríamos até o curral, subíamos na cerca, cada um com sua canequinha de alumínio ou esmalte, com um pouco de café e ficávamos esperando o leite tirado na hora. Hum... que delícia, meu Deus!”

cozinha, uma mesa com moinho de café. O café era moído na hora, cada criança tinha sua vez de moer e era acompanhad­o daquelas delícias, mais o queijo, pamonha e o leite com farinha de milho.

As nossas atividades eram variadas: levar comida na roça, andar a cavalo, brincar no terreirão, ajudar a apartar as vacas, pegar os ovos nos ninhos, brincar de cabra-cega, subir em árvores, pescar, comer e chupar frutas no pé, passear com a vovó pela fazenda, etc.

Quando o papai chegava, era hora de voltar pra casa.

No início de julho deste ano, tivemos o 1º Encontro da Família Sant’Ana, em Cássia. Resolvemos visitar a Serrinha. Tudo abandonado, sem vida, sem aquela alegria de outrora. Ainda há os angicos lá no alto, mas a casa, o terreirão, o curral acabando aos poucos. Uma tristeza só. Decidimos não voltar mais na Fazenda Serrinha.

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