Saida pela cozinha
Renda alternativa ou carreira com status de popstar: o ofício que vem da arte de preparar alimentos possui várias vertentes de ganhos, mas exige dedicação, jornada de trabalho intensa e disciplina
Preparar alimentos como meio de pagar as contas e prosperar. Eis a receita de cozinheiros, chefs, consultores e empreendedores que, diante de um cardápio variado de possibilidades profissionais, agregam valor à arte culinária. Na contramão de diversas profissões que encolheram e até mesmo desapareceram do mercado, eis uma carreira que alçou status de popstar com a febre de programas sobre o tema e o respeito construído pelo profissionalismo de quem eleva ao estado da arte o ofício. Entretanto, para quem flerta com a possibilidade de mudar de área ou iniciar sua vida profissional na gastronomia, deve-se estar ciente de antemão que o fator determinante para fazer parte desse meio é estar disposto a trabalhar com extrema dedicação, disciplina e organização durante uma jornada pesada e contínua, na qual se é testado prato a prato servido.
“A cozinha é um lugar de muito trabalho, em que saber lidar com pressão o tempo todo é fundamental para entregar o prato em pouco tempo, bem montado e com um sabor excelente toda vez que for preparado. Aquela ideia de negócio afetivo, pode frustrar quem busca um caminho profissional sem conhecer a rotina, por isso acredito que, como em qualquer profissão, o fato de gostar de trabalhar com isso, da satisfação de superar o esforço exigido, é o que deve pesar para se tornar um profissional da área”, pondera o estudante do último ano do curso de graduação em Gastronomia da UP (Universidade Positivo), Fellipe Sabbag, 22 anos. Tamanha distância entre expectativa e realidade da profissão torna comum um índice considerável de desistência nos primeiros meses de curso. “Costumo dizer que formamos gastrônomos, por isso que além de toda a atenção dispensada à formação completa e infraestrutura dos cursos de graduação e pós na área de gastronomia também incentivamos a busca por estágios e trabalhos desde o início, o que gera dois efeitos muito comuns: aqueles que desistem porque não consideravam ficar 12 horas em pé, trabalhando sob pressão, e outros que já tinham uma carreira ou cursavam Odontologia, Direito e Engenharia e se encantam de tal maneira que enveredam para a arte de trabalhar com alimentos”, atesta o coordenador do curso de graduação em Gastronomia da UP, Ailton Dias de Almeida, que também mudou de área anos depois de concluir Direito.
Apesar do elevado grau de exigência para prosseguir na profissão, a Gastronomia abarca a diversidade de forma ampla, reunindo pessoas de todas idades, raças e outras características. Tamanho acolhimento também garante projetos bem-sucedidos na área de inclusão social, como a Gastromotiva, que tem por lema “Comida que transforma”. Sem fins lucrativos, o projeto capacita jovens de baixa renda em cursos profissionalizantes na área e os insere no mercado de trabalho. Em dez anos, a Gastromotiva já formou mais de 3,5 mil alunos em São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Curitiba e Cidade do México. O movimento foi fundado pelo chef curitibano David Hertz, um dos grandes impulsionadores da gastronomia social no mundo. Hertz é Young Global Leader do Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, e já foi palestrante no Banco Mundial e no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). “Além de transformar pessoas, a Gastromotiva age na conscientização do respeito e aproveitamento total do alimento, da cultura que precisamos trabalhar do não desperdício. E mais da metade dos alunos, em três meses de curso, saem empregados como auxiliares ou assistentes de cozinha”, explica a coordenadora da Gastromotiva em Curitiba e sommelier de vinho, Tháys Ferrão. Neste mês, o projeto completa dois anos em Curitiba
e está terminando a seleção para a sexta turma de 50 alunos. “Até o final do ano teremos formado 2,5 mil alunos. Gente que não fazia ideia do que era um tomilho e que ampliou todo o universo de ganhos e possibilidades.
A gente acredita tanto no poder de transformação da Gastronomia, que selecionamos pessoas de 17 a 35 anos, mas que demonstram uma vontade de fazer desse ofício a oportunidade de mudar de vida”, destaca Ferrão.