AMOR PATERNO -
Há quase oito anos adaptando a vida para cuidar da filha especial, pai enxerga a vida com gratidão
Pais revelam histórias de companheirismo. Luiz de Carvalho pratica corrida para incentivar o desenvolvimento da filha Débora.
Ela correu pela primeira vez aos 4 anos, criança, como ainda é hoje, pois Débora Carvalho nem mesmo completou os 8 anos e coleciona medalhas conquistadas pelo interior do Brasil, tudo com o apoio do pai, Luiz de Carvalho, 42. Eles correm, porque é o que os tornam vivos e conectados. Ele, operário de produção, ela, uma menina com necessidades especiais. Alguns anos competindo na cadeira de rodas, agora treina passadas para uma corrida mais autônoma.
Quando Luiz descobriu que seria pai pela primeira vez, comemorou. Ele vivia com Raimunda Carvalho, 28, sua esposa, e trabalhava em empresa de ferro em Belém (PA). Planejaram ter o filho e por isso mesmo cuidaram para uma gestação normal. Foi no parto que tiveram complicações. “Estourou a bolsa, mas o parto demorou. Minha filha ficou 18 dias na UTI e quando a gente saiu de lá, foi acreditando que estávamos levando uma criança saudável”, recorda o pai.
Depois de seis meses perceberam que a filha não respondia aos estímulos adequadamente, os exames comprovaram uma paralisia cerebral. “Foi um choque, ela é muito bem aceita, mas não é a notícia que você quer ter”, afirma. Luiz saiu do emprego em tempo integral para vender lanches na rua e conseguir controlar seus horários para cuidar da filha.
OPORTUNIDADE
A família desceu mais de 2,5 mil quilômetros no mapa em busca de tratamentos mais adequados para a filha em Votuporanga (SP). Antes disso, Luiz corria profissionalmente, era sua forma de ir e vir do trabalho no Pará. Ele encontrou na corrida um meio de ganhar prêmios e ajudar com as despesas na casa. Com o nascimento de Débora, havia parado de correr.
Na nova cidade, dois anos depois de se tornar pai, viu na modalidade uma forma de inclusão social da filha. “Era uma oportunidade de mais qualidade de vida para ela e mostrar para a sociedade que ela é capaz de alguma coisa”, argumenta. Na cadeira de rodas e empurrada pelo pai, Débora correu pela primeira vez em 2014. “Foi muito bom, ela gosta bastante, fica empolgada”, relata.
Muitas oportunidades surgiram depois dessa. Na casa onde a família vive há um ano, em Rolândia (Região Metropolitana de Londrina), troféus, medalhas e fotos se misturam à decoração. Os dois passaram por várias cidades brasileiras, o pai recorda das competições que participaram e também das que não puderam ir, como a São Silvestre de 2016, em São Paulo (SP), quando Débora teve convulsões na véspera da viagem.
TRICICLO
No mesmo ano, Débora ganhou o triciclo na corrida de Frutal (MG), o qual pode utilizar para correr com mais conforto. Foram seis anos na cadeira de rodas até que a filha começasse a dar os primeiros passos. “Ela já corre sem a cadeira, no último domingo (5) eu fui com ela, vou segurando nas mãos porque ela se desequilibra”, responde orgulhoso enquanto a filha assiste ao desenho preferido em pé em frente à TV.
Correr há muito tempo deixou de ser uma competição, o objetivo é agregar. “Hoje não busco mais troféu e medalha, eu faço a inclusão social da Débora e de outras famílias que passam pelas mesmas dificuldades junto com a Afel (Associação Famílias Especiais de Londrina). É gratificante trazer outras pessoas, mostrar que não precisa ficar só dentro de casa na cadeira de rodas”, afirma.
SÓ AMOR
Ser pai de uma criança especial mostrou outro lado para Luiz, que sempre adequou a própria vida para cuidar da filha e da caçula, Yane, de 4 anos. “Eu não tenho do que me queixar, só agradecer. Tem pessoas que têm luta, a gente nunca teve luta, foi só amor, carinho, e ajudar a resolver as dificuldades dela, para mim, é uma honra”, fala emocionado.
Ver a filha se desenvolvendo, em pé, aprendendo a segurar um copo de água sozinha para ele é superação. “Faz 7 anos que eu vivo para ela e quero fazer o que posso enquanto estamos vivos. Ela interage com as pessoas nas corridas, ela reconhece algumas, é incrível a felicidade dela quando monto o triciclo”, conta orgulhoso.
Foi um choque, ela é muito bem aceita, mas não é a notícia que você quer ter”