Fazendo a cabeça de celebridades
Com simplicidade, cabeleireiro de Londrina conta o caminho que trilhou até começar a produzir o megahair de várias famosas Brasil afora
Anitta, Preta Gil, Giovanna Ewbank... A lista das famosas começa a ficar extensa para o menino de Primeiro de Maio (Região Metropolitana de Londrina) que sonha grande. Adriano Andrade, 37, trabalha hoje no próprio salão em Londrina, mas fez um caminho longo até chegar ao universo das celebridades. Do Norte do Paraná, passando pelo Japão até o eixo Rio/São Paulo, o cabeleireiro conta, com simplicidade, a trama que o levou a ser um dos melhores em extensão para cabelos no Brasil.
“Eu preparei o melhor que eu tinha e meti a cara. Fui a São Paulo (SP), passei por vários salões renomados e fui tentando. Nada dava certo, eu montava tudo, preparava reunião, apresentava com a maior dedicação e a resposta era um: ‘vou ver’. Por eu ser do interior, as pessoas já me viam com outros olhos”, recorda quando pegava seus produtos e saía de porta em porta para vendê-los nos grandes salões de São Paulo.
Nem todo começo é fácil, mas o início para Andrade foi uma coisa do destino. Aos 17 anos, saiu da cidade natal, Primeiro de Maio, para tentar emprego em Londrina. De montador de bandeja de frios no supermercado, foi convidado por um amigo a trabalhar em um salão de cabeleireiro para fazer dinheiro. “Eu fui por necessidade, eu não tinha ideia desse mundo feminino. No começo, eu levava os dois trabalhos, até porque eu comecei no salão lavando vasilhas, limpando o chão, eu era um auxiliar”, explica.
Aos poucos foi se inserindo na carreira, fez cursos, se profissionalizou para voltar à cidade natal e apostar no próprio salão. “Era pequeno, no fundo de casa mesmo, esses dias minha mãe estava lembrando... Só tinha um espelho, eu lavava o cabelo das clientes no tanque”, esboça um riso tímido. Simples, mas era uma novidade. A cidade ganhava o primeiro cabeleireiro homem para atender o público feminino. “Isso não era comum lá. Aos poucos eu fui conquistando clientela, comprei minhas coisas e aluguei um espaço.”
SONHO
Parecia o sonho, mas foram três anos para largar tudo e ir embora para o Japão. “Minha mãe era doméstica na casa de uma família japonesa, então eu cresci vendo aquela cultura, eu ficava encantado.” A intenção era conhecer o país e trabalhar para conseguir montar um salão maior na volta. “A gente ouvia falar que as pessoas tinham ido e conseguiam fazer a vida, então eu fui”, explica-se. Trabalhou na indústria, em um salão de uma brasileira, abriu o próprio, mas a maior bagagem foi o conhecimento de um método de extensões de cabelo, que utiliza o ponto americano como técnica.
Há dez anos com o salão em Londrina, Andrade recorda os primeiros passos da sua iniciativa em trabalhar com as extensões. “Eu acreditava nisso, eu achava que era uma coisa legal, mas as pessoas tinham um pouco de preconceito, não é todo mundo que fala que tem megahair”, afirma. Tomou golpes de maus fornecedores até encontrar bons produtos. “O melhor cabelo é o brasileiro, as artistas internacionais usam cabelos nossos. Então eu tinha bons produtos, técnica, conhecia o método e via que os profissionais tinham dificuldades em encontrar um bom trabalho. Eu conheci na Europa uma grife de cabelo, não era tão bom, mas era bem apresentado. Achei que eu podia ir mais longe”, argumenta.
Há quatro anos, Andrade começou a bater na porta dos salões em São Paulo, sem retorno. “Era difícil, porque quem trabalha com artista, blinda muito, você precisa encontrar a pessoa certa”. Henrique Martins, maquiador e cabeleireiro de várias celebridades, foi a pessoa certa. Em um master class em São Paulo, Andrade foi até ele mostrar o trabalho. O profissional deu a oportunidade, foi o primeiro a ouvir o que ele tinha a dizer. “Me recebeu maravilhosamente bem, falou sobre o meu produto lá na hora do curso, elogiou, as pessoas que estavam lá ouvindo eram maquiadores de pessoas famosas”, conta com gratidão.
PRIMEIRA FAMOSA
Depois dessa ajuda, outra amiga e modelo londrinense, Izadora Bicalho, o ajudou com o acesso à agência da apresentadora Maria Eugênia, da MTV. “Foi a primeira extensão para uma famosa que eu fiz. Eu queria que alguém colocasse, experimentasse e divulgasse o meu trabalho. A primeira a gente nunca esquece, foi uma realização, ela me ajudou muito, passou o telefone para outras pessoas”, vibra timidamente entre os bichinhos de pelúcia que enfeitam a sala de maquiagem bem decorada do salão.
Martins também lembra do seu incentivador em outras oportunidades. “Eu estava trabalhando no salão, o Henrique mandou uma mensagem de voz falando que a Anitta precisava de um parceiro: ‘Eu estou fazendo o cabelo e maquiagem dela, se você achar bacana... Lembrei de você’. Eu achei maravilhoso! Eu preparei tudo e entreguei para ele todas as encomendas”, conta. No mesmo dia acontecia o Baile da Vogue e o maquiador o chamou para trabalhar na equipe que atenderia várias famosas. “Ele foi uma pessoa muito especial, como é diferente quando você confia no seu trabalho”, elogia o colega.
Juliana Paes, Preta Gil, a agora amiga Lisandra Souto, a londrinense Luisa Accorsi, Giovanna Ewbank... “Fui até a casa dela (Ewbank), achei que ela fosse mais quieta, séria, e ela é super extrovertida, alegre”, destaca. Tudo isso aconteceu há pouco menos de dois anos. Duas extensões do clipe “Medicina”, de Anitta, também são da grife Adriano Andrade 2A, cabeleireiro que fala com o maior orgulho para a entrevista, mas não se expõe tanto entre as clientes. “Sou muito reservado, não gosto muito de sair contando, mas quando elas me perguntam e eu confirmo que fiz, minhas clientes se sentem especiais e isso é legal”, acrescenta.
SEM DESLUMBRE
Não é o universo, a fama, Andrade não é deslumbrado com a carreira. “O mais importante é saber que eu fui capaz de chegar lá, pois essas pessoas têm acesso a tudo, aos melhores profissionais e produtos. Saber que elas usam o meu e elogiam o meu trabalho, isso é muito bom, é muito legal”, explica. A família fica orgulhosa com o resultado. “Meus pais são bem simples, mas minha mãe vibrou quando ficou sabendo que eu fiz o cabelo da Juliana Paes”, ri.
Talvez Londrina esteja ficando pequena para Andrade. Será? “Não pretendo sair daqui, as pessoas perguntam se eu vou me mudar para São Paulo ou Rio de Janeiro, mas não tenho essa ambição. Sou mais simples, não preciso de muito para ser feliz e está muito bom do jeito que está. Eu amo a minha vida do jeito que ela é”, revela.
Feliz e agradecido, ele reconhece a luta que foi para colher o que tem hoje. Emocionado, consente com a cabeça que tem orgulho, enquanto enxuga as lágrimas sem soltar uma palavra. A batalha que só ele sabe que viveu, foi mais dura que a contada nessa história, mas o sonho continua. Novos projetos ainda para desenvolver e celebridades com quem gostaria de trabalhar: “Jennifer Lopez e Ivete Sangalo”, quem sabe um dia? Para quem andou muito e conquistou tanto, nada é impossível.
Eu preparei o melhor que eu tinha e meti a cara. Fui a São Paulo, passei por vários salões renomados e fui tentando. Nada dava certo”
Meu primeiro salão era pequeno, no fundo de casa mesmo... Só tinha um espelho, eu lavava o cabelo das clientes no tanque”