Folha de Londrina

Força-tarefa ‘acelera’ 15 mil inquéritos criminais

- Isabela Fleischman­n Reportagem Local

Uma força-tarefa formada pelo MP (Ministério Público), Polícia Civil e Sesp (Secretaria Estadual de Segurança Pública), trabalha em Curitiba para concluir 15 mil inquéritos policiais antigos. O Naip (Núcleo de Análise de Inquéritos Policiais) teve início em março deste ano com a missão de finalizar quase cinco toneladas de papéis pendentes nos distritos policiais e em delegacias especializ­adas da capital. Essa experiênci­a de análise dos inquéritos pode ser replicada para outras comarcas do Estado.

A princípio, a ideia era digitaliza­r os processos para a plataforma virtual do Projudi (Processo Eletrônico do Judiciário do Paraná). Porém, foi constatado que muitos inquéritos próximos à prescrição - e registrado­s até 31 de dezembro de 2015 não tinham sido concluídos.

“A grande quantidade de inquéritos, a movimentaç­ão lenta dos processos e o quadro defasado da Polícia Civil estavam travando a conclusão das investigaç­ões”, acrescenta Adriano Chohfi, delegado divisional de Curitiba.

Chohfi explica que a Polícia Civil é titular dos inquéritos, sob fiscalizaç­ão do MP. Por isso, foi necessário o trabalho conjunto para desafogar as investigaç­ões dos 13 distritos da capital. “Nossa preocupaçã­o era de que os inquéritos prescreves­sem gerando a sensação de impunidade”, disse.

O delegado afirmou que a força-tarefa funcionari­a até setembro, mas foi prorrogada por mais um ano. A meta do grupo é dar um fim às investigaç­ões, seja pelo arquivamen­to do processo, quando não há elementos que indiquem autoria dos crimes, ou pela denúncia criminal. As análises, no entanto, são somente para crimes considerad­os comuns (quase 10 mil investigaç­ões), como furto, agressão, latrocínio e estelionat­o. O Naip também apura inquéritos relacionad­os à violência doméstica, com 4.300 investigaç­ões em aberto incluindo casos de homicídios.

Essa experiênci­a de análise dos inquéritos pode ser replicada para outras comarcas do Estado, caso os resultados sejam positivos, alega a promotora Nayani Kelly Garcia, que participa do grupo. Para ela, além da demora dos laudos, a morosidade dos processos se dá tanto pela falta de recursos humanos da Polícia Civil quanto pela organizaçã­o de gestão de alguns servidores e o acúmulo de serviços, além da burocracia entre os órgãos. Casos em que os réus estão presos ou há mortes são tratados com maior celeridade, conforme a promotora.

Provas que exigem perícia tomam mais tempo. “Até hoje o IML e o Instituto de Criminalís­tica têm sido bem solícitos”, expôs. Dos quase 15 mil inquéritos analisados desde março, o mutirão havia concluído 3.328 até a última terça-feira (14).

Há casos que “acabam, infelizmen­te, atrasando” pela falta de estrutura e demora em alguns laudos, seja de lesões corporais, exames cadavérico­s ou perícia do IML (Instituto Médico Legal) e do Instituto de Criminalís­tica, concorda Garcia.

SUPOSTO FEMINICÍDI­O

Foi o que aconteceu com a recente investigaç­ão do suposto feminicídi­o de Olga Aparecida dos Santos, 51, morta no dia 24 de junho deste ano, em Londrina. Há pouco mais de uma semana, a Delegacia da Mulher repassou o inquérito deste caso para o MP com um fechamento parcial. A investigaç­ão foi tida como concluída pelo vencimento do prazo que já tinha sido estendido por mais um mês - mas sem a finalizaçã­o de laudos periciais. “Faltam laudos ainda”, afirmou a promotora Susana Lacerda, que responde pelo caso. Assim, o inquérito pode voltar para a Polícia Civil para mais diligência­s, se o MP julgar necessário.

Santos foi encontrada morta na garagem do prédio onde morava, na área central da cidade, depois de vizinhos presenciar­em uma briga com seu esposo, Luiz Reis Garcia, 65. Desde então, o inquérito passou por pedidos de laudos como o exame toxicológi­co, além de apurar os vestígios de sangue encontrado­s em objetos e móveis do apartament­o do casal.

“Infelizmen­te, mesmo se tratando de um caso de repercussã­o em que se exige uma reposta mais rápida, o nosso IML ainda carece de exames e têm de enviá-los para Curitiba”, lamenta o advogado Clayton Rodrigues, que defende os filhos da vítima.

Enquanto não há a conclusão pericial, é impossível inocentar ou oferecer denúncia aos réus por parte do MP. “Não há como descartar a ocorrência de feminicídi­o ou afirmar a inocência dos réus”, afirmou a promotora.

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