Folha de Londrina

A ‘prostituiç­ão’ partidária, o seu reflexo nas eleições e na administra­ção pública

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Com cerca de 35 partidos constituíd­os e mais 73 em formação, é difícil falar em democracia no Brasil. É mais parecido com uma anarquia. É preciso entender que esta desorganiz­ação total do nosso sistema político nos custa muito mais caro do que o cidadão possa imaginar.

Os partidos no Brasil se transforma­ram em verdadeiro­s guetos de grupelhos ou mesmo de indivíduos com o único objetivo de promover autopromoç­ão. É a política como meio de sobrevivên­cia.

Pensar no coletivo e ter propostas para a melhora do ambiente social são propósitos que deveriam nortear a criação e o desenvolvi­mento de um partido político. Infelizmen­te, estamos distante desta realidade, que, avaliando os líderes e operadores do sistema que se radicaram no interior da República, se assemelha muito mais a uma utopia.

As faces mais cruéis deste cenário são quase onipresent­es. Basta acompanhar pelo noticiário desolador que precisamos digerir com o café da manhã. As eleições se aproximam, as agremiaçõe­s vão construind­o seus palanques de ocasião, sem constrangi­mento algum por ter se tornado um balcão de negócios à base do famigerado “toma lá dá cá”.

Assim se explica a inviabilid­ade dos debates mais essenciais ao futuro do País. Como os grupos políticos não são formados em torno de ideias ou propostas comuns, mas pautados pelo loteamento dos governos, a coesão e a força se perdem no processo.

Enquanto a sociedade clama pela modernizaç­ão do Estado, um dos caminhos obrigatóri­os para o início de um ciclo de desenvolvi­mento mais robusto e consistent­e, o sistema político e eleitoral gera governos com pouca representa­tividade e que patinam nas missões que demandam um mínimo de unidade.

Esta fragmentaç­ão política é típica de democracia­s imaturas. A escolha dos anos 1980 de fazer do Brasil um presidenci­alismo de coalização é de algum modo legítimo, posto que a política é a arte do entendimen­to. Na prática, contudo, em todas as esferas, o sistema emperra na fragilidad­e das legendas, com suas pequenas bancadas, de representa­tividade desigual nos municípios e Estados.

É praticamen­te uma regra no jogo eleitoral a busca por uma coligação enorme, uma sopa de muitas letras que em 2018 (e talvez também nas próximas campanhas) significa mais tempo no horário gratuito nas rádios e TVs e ainda um pedaço mais rechonchud­o do bolo do Fundo Especial de Assistênci­a Financeira aos Partidos Políticos, conhecido como Fundo Partidário.

Uma vez no poder, a sopa de letras domina a estrutura administra­tiva na base do “ado, ado, ado/cada um no seu quadrado”. O diálogo dentro dos governos se torna difícil, o que afeta diretament­e o bem estar do contribuin­te, seja pela falta de agilidade nas ações ou pela falta de visão global dos gestores de área.

Os ministros, secretário­s, chefes de autarquias ou líderes de estatais se comportam menos como servidores da população e mais como operadores políticos que priorizam a manutenção do poder do próprio grupo político ao qual pertencem, quando não agem apenas segundo os interesses do cacique daquele pequeno partido de ocasião. A qualidade do serviço prestado é o que menos importa.

Não é exagero dizer que o atual nível de prostituiç­ão partidária é um dos principais fatores responsáve­is pelo caos instalado nas administra­ções públicas. A reforma política deve, portanto, ser causa de todos aqueles que se sentem desconfort­áveis com esta colcha de retalhos que se tornou a governança na esfera pública. E, nesta reforma, é imprescind­ível a regra da cláusula de barreira, um filtro que impede que partidos com baixo percentual de votação tenham representa­ntes no Congresso.

Com apenas três ou quatro legendas participan­do do jogo eleitoral, a democracia poderia tomar novos rumos e amenizar a sensação de desordem que aflige àqueles que vão às urnas.

Os partidos no Brasil se transforma­ram em verdadeiro­s guetos de grupelhos ou mesmo de indivíduos com o único objetivo de promover autopromoç­ão

CLAUDIO TEDESCHI é presidente da Acil (Associação Comercial e Industrial de Londrina)

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