Endereços duplicados confundem a população
Apesar de a legislação proibir, vias com o mesmo nome podem ser encontradas em diferentes bairros de Londrina
Em um mundo repleto de aplicativos que indicam o endereço em tempo real por meio do uso do GPS, por vezes alguns deles acabam direcionando para o local errado. Isso acontece porque um nome é usado em mais de uma via. Um exemplo é a João Alves da Rocha Loures, que existe como rodovia no jardim União da Vitória (zona sul de Londrina) e como rua no conjunto Neman Sahyun, também na zona sul. O motoboy Flávio César Gonçales relata que a duplicidade faz com que muitos policiais de outros municípios que precisam ir à PEL 2 (Penitenciária Estadual de Londrina 2) parem na rua de sua casa, no Neman Sahyun. A penitenciária fica rodovia. “Muitas viaturas e carros de outras cidades acabam vindo para cá. Eles acabam batendo palmas na frente de casa para buscar informações. Como aqui é fim de bairro, para retomar o caminho certo é preciso dar a volta no jardim Ouro Branco. A distância entre os dois endereços é longa, cerca de 4,5 km”, detalha.
O motoboy também observa que muita correspondência errada acaba parando em sua casa. “A gente tem que devolver tudo para os Correios para eles entregarem no local correto. A prefeitura precisa mudar isso para melhorar para todo mundo”, observa. Quem acabou parando no endereço errado é a jornalista Carina Paccola, que precisava ir para o União da Vitória, mas o aplicativo acabou direcionando seu veículo para o outro bairro. “Peguei o endereço, coloquei no GPS do celular e fui seguindo as orientações. Cheguei até a rua, mas o número que eu procurava não existia. Eu tinha ido parar no Neman Sahyun”.
A culpa não foi nem dela, que não conhecia o local, e nem do aplicativo, que precisa lidar com nomes em duplicidade no município, apesar de a legislação local vedar essa prática. Segundo a lei nº 7631/1998 , “não haverá nomes em duplicata e as vias fisicamente unas e contínuas manterão o mesmo nome, inclusive em seu prolongamento, salvo mudança considerável de direção, largura ou características”.
Mas não é isso que ocorre na prática. O município possui a rua e a travessa Belo Horizonte (ambas no Centro), assim como a Manuel Alves da Silva é rua no jardim Maria Luiza e rodovia no conjunto João Turquino. Até mesmo vias bem movimentadas e conhecidas são “duplicadas”. A Celso Garcia Cid (rua no Centro e rodovia) é um exemplo.
Por vezes essa duplicidade pode resultar em um erro de dezenas de quilômetros de distância. Um motorista que faz serviços para uma famosa rede de varejo relatou que entregou móveis na Alameda Miguel Blasi, centro de Londrina. No entanto, o trabalho deveria ter sido realizado na rua Miguel Blasi, no distrito de Paiquerê (zona sul). “Nesse episódio quase perdemos a mercadoria”, relatou o entregador.
O porteiro Ismael Vieira da Silva trabalha em um conjunto de prédios localizado na rua Manoel Alves da Silva, no jardim Maria Luiza. Ele relata que entregadores de outros municípios são os mais prejudicados. “Quando eles programam no GPS, esse endereço aparece no conjunto João Turquino; e muitos contam que acabam parando em uma rua ‘morta’”, destacou. “Como alguns motoristas não conseguem encontrar o endereço, devolvem a mercadoria para o depósito e até o cliente entender o que aconteceu pode demorar dias.”
Já a dona de casa Sidnea Salles de Oliveira teve um grande transtorno por causa do nome da rua. “Eu moro aqui há 14 anos e essa rua sempre se chamou Josip Kloc, mas em 2016 apareceu na conta da Copel que a via era a Manuel Alves da Silva. Na hora do meu filho transferir o carro eles não aceitaram a conta de luz como comprovante de endereço, porque o nome da rua era diferente do que ele havia fornecido no documento. Pedi certidão narrativa e a Copel não aceitou. Tive que levar a lei que denominou a rua para que eles aceitassem”, relatou. O problema é que a mesma via acabou ficando com dois nomes.