Diversidade em filmes de alto nível
46ª edição de Gramado teve um primeiro fim de semana de bom cinema e conversas estimulantes sobre produção
Gramado
- O diretor Cacá Diegues, um dos decanos do Cinema Novo brasileiro, está de volta à cena e abriu aqui, fora de concurso, o 46º Festival de Cinema de Gramado com os termômetros ainda tímidos na serra gaúcha - no domingo (19)uma forte massa polar entrou na região e reverteu o quadro, devolvendo à paisagem seu encanto invernal. “O Grande Circo Místico”, que pretende ser um épico familiar baseado em poema surrealista de Jorge de Lima, inaugurou a programação. O elenco principal (Mariana Ximenes, Bruna Linzmeyer, Antonio Fagundes, Jesuita Barbosa, Marcos Frota e Vincent Cassel) movimentou pela primeira vez o tapete vermelho em frente ao Palácio dos Festivais.
Cacá continua um cineasta muito bom, e ainda atrelado a certas formas dramatúrgicas barrocas, como ele mesmo não esconde (e nem daria: sua marca registrada está impressa não mais no celuloide, mas agora no digital: é concessão obrigatória que ele aceita, evidentemente). No debate no dia seguinte à projeção, o diretor fez um desabafo: “Esse filme é meu resgate do barroco nacional. Estou de saco cheio dessa enxurrada de filmes naturalistas com pretensão de fazer do cinema um espelho exato da vida e da realidade. O cinema é um olhar sobre o mundo, ele não é uma reprodução exata”, comentou Cacá.
O primeiro longa-metra- gem brasileiro em competição foi “A Voz do Silêncio”, de Andre Ristum. É um filme coral que alinha a história de uma dezena de pessoas comuns que moram anônimas em São Paulo às vésperas de um eclipse lunar. Neste leque de personagens perdidos na metrópole cosmopolita, o roteiro vai costurando aos poucos a vida dessas pessoas , de- senhando as personalidades, recortando sonhos, anseios e frustrações. Um bom elenco internacional (brasileiros e latinos) garante a melhor fluência da história.
Mas os hits das primeiras sessões do Festival de Gramado foram os longas paraguaio “As Herdeiras” e o brasileiro “Benzinho.” O primeiro é sobre um casal de senhoras classe média na terceira idade, e o filme se debruça sobre a vida dessas personagens e suas fragilidades (a solidão, o medo, o desejo, a passividade , a submissão). Um trio de atrizes de primeira grandeza, e uma direção segura (Marcelo Martinessi) credenciam o filme para a premiação no próximo sábado (25). “Benzinho” é uma viagem entre afetiva e caótica ao núcleo de uma família (pai, mãe, quatro filhos), no momento em que o filho mais velho, adolescente, é convidado para jogar handebol na Alemanha. Outro retrato de mulher (Karine Teles) frágil/forte que se joga de cabeça na luta pela sobrevivência de marido e filhos, um personagem solar que é retrato magnífico de gênero.