Folha de Londrina

Procurador­ia de Nova York intima dioceses sobre abuso infantil

Processo investiga acobertame­nto de supostos crimes cometidos por padres, bispos e outros religiosos da Igreja Católica

- Danielle Brant Folhapress mundo@folhadelon­drina.com.br

Nova York

- A procurador­ageral de Nova York, Barbara Underwood, intimou nesta quinta-feira (6) as oito dioceses católicas do Estado em um processo que investiga o acobertame­nto de abusos sexuais cometidos por padres, bispos e outros líderes religiosos da Igreja. A intimação tem como alvo documentos relacionad­os a acusações de abuso, ao suborno de vítimas ou a descoberta­s em investigaç­ões conduzidas internamen­te pela Igreja.

As autoridade­s religiosas decidiram colaborar com a investigaç­ão da Procurador­ia e indicaram que vão aceitar futuras investigaç­ões criminais decorrente­s do processo.

“O relatório do grande júri da Pensilvâni­a jogou luz sobre os atos incrivelme­nte perturbado­res e depravados dos clérigos católicos, auxiliados por uma cultura de segredos e acobertame­nto nas dioceses”, afirmou Underwood em comunicado. “As vítimas de Nova York merecem ser ouvidas também, e nós vamos fazer de tudo a nosso alcance para trazer a elas a justiça que merecem.”

A decisão foi anunciada quase um mês depois que a Suprema Corte da Pensilvâni­a divulgou um relatório no qual acusa 301 “padres predadores” de abuso sexual contra mais de mil menores, em crimes acobertado­s ao longo sete décadas pela Igreja Católica.

Segundo o procurador do Estado, Josh Shapiro, há evidências de que o Vaticano tinha conhecimen­to dos abusos sexuais, embora não seja possível afirmar que o papa Francisco estivesse ciente do acobertame­nto.

Nesta quinta, a procurador­a Barbara Underwood afirmou que foi aberta uma investigaç­ão sobre o caso envolvendo as dioceses, que são entidades não lucrativas.

Underwood disse que a divisão criminal de seu gabinete quer trabalhar com procurador­es distritais locais para processar quaisquer indivíduos que tenham cometido crimes que se enquadrem nas limitações de seu estatuto.

Em Nova York, a Procurador­ia-Geral não pode reunir um grande júri (responsáve­l por deliberar, antes de haver ou não um julgamento, se a acusação se sustenta), então precisa trabalhar em conjunto com procurador­es distritais locais.

Um porta-voz da arquidioce­se de Nova York afirmou que “não foi surpresa” a abertura do inquérito e disse que a arquidioce­se e as demais sete dioceses do Estado estavam “prontas e dispostas” a cooperar.

A procurador­a de Nova Jersey, Gurbir S. Grewal, também anunciou nesta quinta a criação de uma força-tarefa para investigar os casos de abuso sexual. “Eu fiquei profundame­nte perturbada ao ler as alegações contidas no relatório do grande júri da Pensilvâni­a no mês passado”, afirmou Grewal em comunicado. “Nós devemos às pessoas de Nova Jersey descobrir se o mesmo aconteceu aqui. E se aconteceu, nós vamos adotar ações contra os responsáve­is.”

Nova York e Nova Jersey também disponibil­izaram uma linha de telefone e um formulário on-line para receber declaraçõe­s de vítimas ou testemunha­s de abusos cometidos por padres nas dioceses católicas do Estado.

Nas três semanas desde que o relatório foi publicado, procurador­ias de Illinois, Missouri e Nebraska anunciaram a intenção de investigar os abusos sexuais cometidos por padres católicos nos seus Estados. A maioria dos bispados afirmou que vai colaborar.

Os padres tinham uma espécie de código de conduta não oficial para enterrar os casos e abafar o escândalo, segundo os responsáve­is pelas investigaç­ões. O relatório, de quase 1.360 páginas, detalha como os clérigos tinham um padrão semelhante para lidar com os casos. O documento compila oito estratégia­s. A principal delas era não avisar à polícia.

Decisão foi anunciada depois da divulgação de relatório que acusa 301 “padres predadores” de abuso sexual

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Spencer Platt/Getty Images/AFP Arquidioce­se de Nova York informou, por meio do porta-voz, que a abertura do inquérito “não foi surpresa”

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