Folha de Londrina

Governo prepara blitz para fiscalizar tabela do frete

“Várias” operações devem ocorrer durante o feriado de 7 de setembro, segundo fontes; fiscais poderão notificar pessoas e empresas que tenham contratado frete abaixo da tabela

- Lu Aiko Otta

Brasília - Acuado diante do risco de uma nova paralisaçã­o dos caminhonei­ros, o governo anunciou nesta quinta-feira (6), que vai atender a mais um pleito da categoria: o início da fiscalizaç­ão quanto ao cumpriment­o da tabela de preços mínimos do frete rodoviário. Segundo fontes, haverá “várias” operações ao longo do feriado de 7 de setembro. Os detalhes, porém, são mantidos em sigilo.

A urgência é tanta que foi publicada na tarde de quintafeir­a uma edição extra do Diário Oficial com o objetivo de dar embasament­o jurídico à atuação dos fiscais da Agência Nacional de Transporte­s Terrestres (ANTT). Esse mandato legal não existia e, pelo rito normal, levaria perto de quatro meses para ser criado.

Sem poder esperar tanto tempo, o Planalto emitiu uma ordem para começar a fiscalizaç­ão o quanto antes. Os fiscais teriam de estar nas estradas antes da próxima quarta-feira (12), quando está programada uma manifestaç­ão de caminhonei­ros para cobrar a atuação dos fiscais da ANTT.

Num primeiro momento, os fiscais poderão notificar as pessoas e empresas que tenham contratado frete abaixo da tabela. Esse documento poderá servir de base para que o caminhonei­ro busque, na Justiça, uma indenizaçã­o equivalent­e ao dobro da diferença entre o preço praticado e a tabela.

Essa compensaçã­o está prevista na lei que estabelece­u a política de preços mínimos do frete rodoviário. Uma possibilid­ade em estudo no governo é colocar os sindicatos dos caminhonei­ros como intermediá­rios num entendimen­to entre o motorista e o embarcador

A aplicação de multas que vão gerar recursos aos cofres públicos ainda será regulada pela ANTT. Na quinta-feira (5), o órgão abriu uma audiência pública para receber sugestões da sociedade a respeito de procedimen­tos para garantir o cumpriment­o da tabela do frete. Serão 30 dias de consulta.

Essa é a segunda vez nesta semana que o Planalto atropelou procedimen­tos técnicos da ANTT para atender à pressão dos caminhonei­ros. O reajuste médio de 5% na tabela do frete anunciado na quarta-feira, para acomodar a alta de 13% do diesel às distribuid­oras, é outro exemplo.

Às vésperas das eleições, estabelece­u-se nos escalões políticos um vale tudo para evitar um novo colapso na mobilidade e no abastecime­nto do País.

GANHOU, MAS NÃO LEVOU

Nos gabinetes da Esplanada dos Ministério­s há quem avalie que os caminhonei­ros ganharam, mas não levaram o tabelament­o do frete. Parte do mercado vem operando com preços abaixo dele. De acordo com um técnico, isso vem ocorrendo principalm­ente no agronegóci­o

Como a legalidade da própria tabela está em discussão, algumas empresas, independen­temente do setor, têm contratado serviços a preços inferiores. As mais prudentes fazem um provisiona­mento para o caso de terem de pagar a indenizaçã­o. Outras simplesmen­te ignoram o tabelament­o.

Com cerca de 500 fiscais para atuar em 1,7 milhão de quilômetro­s de rodovias do País, a ANTT vai atuar pontualmen­te para verificar o cumpriment­o da tabela do frete rodoviário. A ideia é fazer operações de forma não previsível para gerar o que os fiscais chamam de “efeito demonstraç­ão”: forçar os embarcador­es a contratar serviços dos caminhonei­ros pela tabela, diante do risco de ser apanhado descumprin­do-a.

Aplicação de multas

ainda será regulada pela ANTT

 ?? Saulo Ohara/31-01-2018 ?? Possibilid­ade de nova paralisaçã­o dos caminhonei­ros pesou na decisão do governo: fiscais teriam de estar nas estradas antes da próxima quarta-feira (12), quando está programada uma manifestaç­ão de caminhonei­ros para cobrar a atuação dos fiscais da ANTT
Saulo Ohara/31-01-2018 Possibilid­ade de nova paralisaçã­o dos caminhonei­ros pesou na decisão do governo: fiscais teriam de estar nas estradas antes da próxima quarta-feira (12), quando está programada uma manifestaç­ão de caminhonei­ros para cobrar a atuação dos fiscais da ANTT

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