Crianças sempre dão sinais de que algo está errado
Promotora de Justiça da Vara de Infrações Penais contra Crianças, Adolescentes e Idosos de Curitiba, Tarcila Santos Teixeira diz que não há um quadro de sintomas específico que permita identificar que as crianças estão sendo vítimas de agressão ou abuso, mas ressalta que sempre existem sinais de que alguma coisa pode estar errada na rotina da escola ou em casa.
O indicativo mais revelador, destaca a promotora, é a alteração de comportamento em qualquer sentido. Uma criança falante pode tornar-se calada, uma criança calada pode ficar agressiva, assim como demonstrar tendência ao recolhimento repentinamente. Falar coisas que não fazem parte de sua rotina e reproduzir comportamentos que os pais não reconhecem também são motivos para que os pais fiquem atentos. “Qualquer alteração deve ser objeto de um certo cuidado e investigação por parte dos pais”, orientou Teixeira.
Em caso de suspeita, a recomendação é deixar a criança segura para que ela confie nos pais ou responsáveis e possa revelar a dificuldade pela qual está passando porque, dependendo do tipo de situação, ela pode ter medo de falar sobre o assunto. “É importante conversar com o filho, fazer o acolhimento, mas sem sugerir situações. É preciso ter cuidado com conversas sugestivas, o que poderia fazer a criança a fantasiar uma situação. É preciso dar confiança, mas sem sugerir hipóteses reveladoras”, disse a promotora.
Se mesmo após a conversa não for possível obter uma revelação, mas há sinais de que algo não vai bem, a orientação é não insistir e procurar os órgãos de proteção, como o Nucria (Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítimas de Crimes), onde há profissionais capacitados para conduzir a questão. “Não precisa forçar a criança a trazer mais circunstâncias. Se pelo pouco já há uma suspeita, a mera suspeita deve ser averiguada. Não tenha a preocupação de ter provas. A lei é clara que a suspeita deve ser levada adiante para se buscar uma investigação mais aprofundada”, ressaltou a promotora. “O que a criança tem condição de verbalizar já é suficiente para suspeitar de uma violação de direitos e os órgãos de proteção tem profissionais para fazer a escuta especializada da criança, com profissionais especialistas na área de violência. A partir da escuta vai dar um direcionamento, dar início a um processo investigatório e, paralelamente, adotar as medidas para acautelamento por via judicial.”