‘Vereadores terão que responder à sociedade’, diz analista
O atual líder do prefeito Marcelo Belinati (PP) na Câmara Municipal, Jairo Tamura (PR) e o ex-líder do Executivo Péricles Deliberador (PSC) se abstiveram no julgamento dos vereadores afastados pela Justiça. Outros três vereadores da base de sustentação do prefeito votaram contra a cassação. São eles: Guilherme Belinati (PP), Jamil Janene (PP) e Gerson Araújo (PSDB). A ausência de Filipe Prochet (PSD), da oposição, também foi determinante para o resultado do julgamento.
Ao final da votação, Tamura e Deliberador saíram sem falar com a imprensa. A FOLHA tentou contato com ambos por celular, mas não obteve retorno para saber o motivo da recusa em se posicionar em plenário sobre o relatório que indicava cassação dos mandatos.
Para o professor de ética e filosofia política da UEL (Universidade Estadual de Londrina), Elve Cenci, o resultado apertado mostra claramente que o ambiente era pela cassação. “De uma certa forma esses vereadores terão que responder à sociedade. É uma escolha de não se comprometer nem com os colegas nem com o resultado. Essa tentativa de ficar ‘em cima do muro’ muitas vezes tem efeito contrário”, analisa o professor sobre os vereadores que se abstiveram.
Já sobre a ausência de Prochet, Cenci avalia que seria um voto “fiel da balança” e que “apenas por motivos de doença” um parlamentar deveria se ausentar do julgamento decisivo. O vereador do PSD, que estaria no interior de São Paulo, preferiu não comentar o arquivamento e afirmou que está em viagem por questões familiares. “Foi uma decisão arriscada, mas preferi ficar ao lado da minha família neste momento”, afirmou à FOLHA.
O pastor Gerson Araújo, que votou pela cassação, foi condenado pela Justiça à perda do mandato em uma ação por improbidade administrativa no caso Iguaçu do Brasil, por favorecer a desapropriação de um terreno quando ocupou o cargo de prefeito, no final de 2012.
Autor da representação que motivou a abertura da CP, o vereador Filipe Barros (PSL) foi questionado sobre o resultado da votação. “É uma vergonha para imagem da Câmara que já não está lá essas coisas.”, disse. O suplente dele, Emanoel Gomes (PRB), também optou pela abstenção. Questionado se não teria sido erro de estratégia ter decidido apresentar o pedido na Casa e ter sido impedido de votar, Barros negou. “De jeito nenhum, o regimento interno proíbe o autor de votar. Esse ônus não é meu.” Barros também negou qualquer motivação eleitoral quando representou conta Alves e Takahashi, mesmo sendo candidato a deputado.
Procurados pela FOLHA, os promotores do Gaeco em Londrina, não quiseram comentar o arquivamento. Em outubro, as testemunhas de acusação começam a ser ouvidas na audiência de instrução na 2ª Vara Criminal de Londrina no âmbito da Operação ZR3.
CLIMA E DESGASTE
Takahashi foi eleito presidente da Câmara para o biênio (2017-2018) e Alves foi presidente da Casa em 2013 e 2014 e tinham bastante influência entre os pares antes da deflagração da ZR3. Para Cenci, mesmo com a absolvição, a perspectiva é de um clima de animosidade quando os vereadores retornarem aos trabalhos no próximo ano. “A cassação seria a morte politica dos dois. São dois anos ainda pela frente, com muito ressentimento. O ambiente ficará tenso” prevê.
O analista político ainda relembra os episódios que desgastam a atual Legislatura que assumiu em 2016. “Há uma crise permanente, de desgaste, imagem e pauta”, pontua. Segundo o professor, os episódios com vereador cassado Boca Aberta, o embate entre Barros e sindicalistas, o aumento do IPTU, se somam a uma pauta de projetos fraca. “Há uma agenda que não foca nas grandes questões da cidade, discutindo questões de gênero, por exemplo. Sem contar a postura dócil com o prefeito, o que coloca em cheque a independência entre os poderes.” elenca.
“Essa tentativa de ficar ‘em cima do muro’ muitas vezes tem efeito contrário”