Preconceito ainda é barreira
O preconceito ainda é um barreira que os exdetentos têm que enfrentar na hora de buscar recolocação no mercado de trabalho. Ainda prevalece a ideia de que contratação de um egresso poderia tirar a vaga de um pai de família. Para a diretora do Patronato Penitenciário de Londrina, Cíntia Helena dos Santos, a discriminação torna ainda mais complicada a situação de quem acaba de deixar a cadeia.
“É difícil para qualquer um conseguir um emprego hoje. Mas além dessa dificuldade, se a pessoa ainda tem um marcador de ex-presidiário, tem uma vulnerabilidade maior”, argumenta. Para a diretora, o decreto que determina conta para egressos em obras públicas é um esforço válido para que os apenados tenham oportunidade. “Se esse indivíduo não tem como trabalhar, ele vai fazer o que sabe fazer, ainda que tenha dado errado “, opina.
Desde a criação no final de 2017, o Escritório Social, serviço de apoio a egressos, já atendeu aproximadamente 500 ex-detentos. A entidade oferece diversos tipos de apoio. “As pessoas vêm pedir de tudo aqui. Às vezes vêm com demandas simples como mudar o horário da tornozeleira ou fazer um currículo”, revela.
“Tem um que estamos fazendo a quarta Certidão dele. Entregamos, agendamos para fazer a Carteira de Identidade e antes disso ele perdeu de novo porque está em situação de rua. Mas esse é o trabalho, quantas vezes for preciso”, conta.
O homem a quem Santos se refere é morador de rua, usuário de droga, esquizofrênico e tem HIV. “Dentro da condição, ele está bem, mas precisa de apoio para que possa conseguir a Carteira de Identidade de novo e ter acesso inclusive aos benefícios sociais. A ideia é que ele saia do sistema de Justiça e vá para a vida”, ressalta.
“Nosso trabalho é de tradução da linguagem jurídica, psicológica e pedagógica”, acrescenta a diretora. O desconhecimento de obrigações da pena, por exemplo, pode levar ao descumprimento. “A audiência de custódia é uma coisa muito fria, com termos que a maioria das pessoas não entende. Cada vez mais temos que lembrar o que é o trabalho com pessoas”, pontua Santos.
PESO DA REINSERÇÃO
O Patronato Penitenciário de Londrina atende atualmente 2.500 pessoas. Dessas, 600 já passaram pelo sistema penitenciário. A instituição, porém, não tem dados concretos sobre reincidência. Santos garante, no entanto, que o número de egressos que voltam a cometer crime é baixo. “São poucos os que reincidem. Mas se um reincidir é um barulho muito grande. Não só para nós, mas para toda sociedade”, alega. A diretora ressalta que quando o apenado recebe algum tipo de apoio, a chance de voltar a cometer crime diminui muito.