‘Não tenho vergonha de falar que sou apenado’
“Procurei o pouco de bom que o sistema penal oferecia”, conta Ermínio Netto, 29, que cumpre pena no regime semiaberto na sede do Creslon (Centro de Reintegração Social de Londrina), onde trabalha no setor administrativo. Às noites, ele estuda Letras na UEL (Universidade Estadual de Londrina).
Condenado em 2009 a 33 anos e quatro meses, Netto ficaria, a princípio, 12 anos em regime fechado. Cometeu quatro crimes, incluindo um homicídio. Mas sempre buscou a remição por meio dos estudos e da leitura. Já conseguiu reduzir mais de dois anos da pena pelo trabalho. “Já tenho que trocar meus óculos porque leio muito aqui. Tinha outros vícios que não eram muito agradáveis. Hoje possuo o vício da leitura”, diz. Recentemente, progrediu do fechado para o semiaberto e agora consegue sair para visitar a família.
As duas filhas e a esposa, que recebe benefícios sociais, moram na zona norte da cidade. A mãe dele é pensionista. Antes de se envolver no crime, o apenado tra- balhava como repositor em uma loja de materiais de construção. Agora ele espera progredir novamente para conseguir trabalhar com carteira assinada e ajudar os parentes, já que hoje recebe pelo serviço no Creslon pouco menos de um salário mínimo, que fica retido em uma conta poupança. “É um cargo de confiança”, conta.
No Creslon, são 248 vagas para 324 presos do regime semiaberto. Segundo o diretor Maurício Sanches, cerca de cem presos usam tornozeleira eletrônicas e são obrigados a passar a noite na unidade. O restante é monitorado, mas não precisa dormir no local. Há convênios com empresas e com órgãos públicos que empregam os apenados como a FEL (Federação de Esportes de Londrina) e a Secretaria Estadual de Educação, por exemplo.
“Já tivemos mais empresas que faziam esse convênio, mas a crise atingiu também o sistema penitenciário”, conta. O trabalho do apenado é uma mão de obra mais barata para as empresas e faz parte do processo de ressocialização do detento. “Não há pena de morte ou prisão perpétua no Brasil, então essa pessoa vai retornar para a sociedade”, pontua o diretor. “Nós fazemos uma tentativa intensa para que ele volte como cidadão e não como criminoso.” A ideia do diretor é que “em doses homeopáticas” o preso volte ao convívio social. “Vai sair para ser cidadão? Cidadão tem que trabalhar”, opina.
Em torno de 1.500 presos são monitorados na região mais de mil só em Londrina. “Esses monitorados têm várias categorias. Temos aquele que é preso e na audiência de custódia o juiz determina que ele fique monitorado até sair a sentença, o preso que estava no Creslon e conseguiu uma carta de emprego e os presos em que vencido o determinado prazo, condição ou característica especial é concedida a monitoração por prisão domiciliar”, elucida.